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2005-06-20
Dom Décio Zandonade, bispo de Colatina, deverá ficar fora da ação indígena. O próprio bispo deu essa garantia no encontro que manteve com os índios, na última quinta-feira (9/6), e repetiu num telefonema para o cacique Jaguareté, da Aldeia de Caieiras Velha. A posição do bispo foi transmitida ao cacique e circulou durante ato público realizado na quinta-feira (16), no Cine Metrópolis, na Universidade Federal do Espírito Santo.

Por telefone, Jaguareté informou a Século Diário que o bispo seguirá o conselho dos índios: — O bispo disse que até tomar uma posição seguirá nosso conselho e não irá ajudar, mas também não irá atrapalhar – disse o cacique. Com isso, a base da Igreja fica liberada para apoiar os índios. Representantes de base da Diocese vêm apoiando os índios em sua luta pela retomada das terras usurpadas pela Aracruz Celulose. Representantes da comunidade eclesial de base da Igreja, em Colatina, em correspondência a este Século Diário, afirmaram que a opinião do bispo não é consenso entre os membros da Igreja de Colatina. O bispo chegou a declarar, em reunião com os índios, que não mexeria uma palha em sua comunidade para apoiar os índios se o caminho seguido não fosse a conciliação, mas foi duramente contestado pelos índios.

Os esforços para sensibilizar o bispo e a sociedade em geral não param por aí. O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Colatina (SISPMC), que tem grande ligação com a Diocese de Colatina, iniciou uma campanha para arrecadar alimentos para as famílias indígenas que estão em luta pela demarcação de suas terras, e o presidente da Câmara, Genivaldo Lievore, chegou a apresentar uma moção, aprovada pelos demais vereadores e enviada ao presidente da República, ao ministro da Justiça e ao governador do Estado pedindo imediato empenho na demarcação das terras das tribos Tupinikin e Guarani de Aracruz.

A falta de apoio do bispo não significa a paralisação de ações da Igreja em favor dos índios. O movimento, desde seu início, teve apoio do Conselho Indígenista Missionário (CIMI), que atuou no Estado de 1978 até 2003, como lembrou Fábio Villas, atuante durante anos no Cimi e ex-administrador da Funai. O movimento indígena conta ainda com o apoio direto das Irmãs Combonianas, da Pastoral Indigenista. Com tanta mobilização, os índios esperam um dia poder contar com o apoio do bispo para fortalecer a luta.

Mobilização

Nesta quinta-feira (16) os índios participaram de um ato de mobilização na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Com o Cine Metrópolis lotado, um vídeo relatando a luta indígena pela retomada de suas terras foi apresentado, junto com fotos e amplas explicações dos índios presentes.
Os estudantes, professores e representantes das deputadas Iriny Lopes e Brice Bragato (PT) e do deputado Claudio Vereza (PT), ouviram ainda depoimentos de lideranças e caciques que afirmaram mais uma vez a certeza de que a terra é indígena e que desta vez ninguém irá recuar.

Em seus discursos, os índios lembraram a importância da floresta, comovendo os presentes. —Esta empresa derrubou nossa floresta, nosso Pau Brasil, que dá nome a este país. Para ela, cada eucalipto equivale a um dólar; para nós, cada eucalipto derrubado em nossa luta equivale a um rio, uma caça, um pássaro, tudo aquilo que foi embora junto com a mata que ela destruiu, ressaltou a índia Iara Tupã. Os índios deixaram claro que não são invasores, como foi relatado em diversos jornais do Estado. — O fundamento da nossa luta não é invadir as terras de ninguém, estamos retomando o que é nosso. Não somos invasores, somos defensores, ressaltou.

Os índios, que fizeram também um breve discurso em Guarani, ressaltaram ainda a importância do apoio da sociedade e lembraram os quatro anos de estudos que comprovaram que as terras são tradicionalmente indígenas.

Para o deputado Cláudio Vereza, a Aracruz Celulose fez de tudo para manter os povos indígenas afastados, mas não conseguiu. — A união deste povo, a sua força sem armas, sem sangue, veio ensinar para nós uma lição que não conhecemos, que é de como derrubar impérios, ressaltou ele.

Os índios agradeceram pelo apoio que lhes foi dado até hoje e lembraram que todos que quiserem conhecer a nova aldeia serão bem-vindos e poderão conhecer a realidade do povo e saber a importância desta luta. Na Ufes, nas próximas terça e quarta-feira (21 e 22), no portão da passarela, serão arrecadados alimentos para ajudar os índios que deixaram seus trabalhos para lutar pela retomada de suas terras.

Os alimentos poderão também ser entregues no Centro de Direitos Humanos da Serra. Estuda-se ainda a idéia de se levar a coleta de alimentos para os bairros e entidades interessados em apoiar a luta. (Século Diário, 17/6)

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