Analista alertou o Ibama sobre falhas nas autorizações para desmatamento
2005-06-16
O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Carlos Bicelli, que é lotado em Santarém, disse no dia 14, em entrevista por telefone, que o memorando interno indicando falhas graves nas autorizações de desmatamento de dez áreas de assentamento nos municípios de Anapu e Pacajá foi entregue à direção do órgão em fevereiro deste ano. Ele contou que o trabalho durou pouco mais de semana. Bicelli visitou, por amostragem, dez das 2,5 mil áreas que receberam autorização de desmatamento no ano passado e constatou que em todas elas não havia mais madeira para ser comercializada. - A gente imagina que, se em 100% das dez escolhidas aleatoriamente havia problema, é porque provavelmente deve haver nas demais - afirmou.
O trabalho do técnico consistiu em visitar pessoalmente cada uma das áreas escolhidas para fiscalização. O principal erro encontrado, de acordo com ele, foi a diferença entre as informações constantes no Dipro (Documento de Informação da Propriedade). Esse documento é fornecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ao Ibama e deve ser um espelho do que existe na propriedade (área para ser desmatada, tipo de lavoura, benfeitorias etc.). Na maioria dos casos, ficou constatado, durante a vistoria, que as informações não era confirmada pela realidade.
Bicelli disse não saber como o memorando interno assinado por ele acabou nas mãos do Sindfloresta, mas afirma que, como o documento foi enviado à direção do órgão, várias pessoas tiveram acesso. Afirma também que não teme represálias dentro do Ibama. - Fiz meu trabalho e, embora o memorando seja um documento interno, essas informações são públicas. Não vejo problema - afirma.
No dia 14, o presidente do Sindfloresta, Mário Rubens Rodrigues, encaminhou à Polícia Federal os documentos que, segundo ele, podem indicar a ocorrência de fraudes na liberação das autorizações de desmatamento em áreas de assentamento. - O que fiz foi apenas um pedido de investigação. É um direito que cabe a todo cidadão - defendeu ele, que há um mês e meio havia enviado o mesmo dossiê para o Ministério do Meio Ambiente. Sobre a declaração do deputado Zé Geraldo (PT-PA) de que pedirá a convocação do presidente do Sindfloresta para depor na CPI da Terra, ele afirmou que já sabia de sua convocação e garantiu que pretende levar ao Congresso o dossiê completo sobre o suposto esquema que, de acordo com denúncia publicada na revista Veja, envolvia a arrecadação de recursos para as campanhas petistas no Pará, em troca da liberação de madeira ilegal.(Amazônia.org.br, 15/06)