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2005-06-16
Com aproximadamente 120 mil pneus sem condições de rodagem ou de reforma (inservíveis), foi possível recuperar uma erosão de cerca de 300 metros (m) de comprimento, por 10 m de largura e 4,5 m de profundidade, na região de Piracicaba (SP). O projeto piloto teve coordenação do professor Gerd Sparovek, do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP de Piracicaba.

A pesquisa, inédita no Brasil, começou em 1998 quando Sparovek foi procurado por representantes da Cetesb e da Prefeitura Municipal de Piracicaba. Era necessário encontrar um destino adequado para os pneus inutilizados, já que o depósito em que estavam estocados seria devolvido ao proprietário. - Na época, o Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Esalq já fazia testes experimentais onde pneus eram usados como material de preenchimento, substituindo terra ou entulho - afirma.

A Prefeitura identificou uma erosão em um sítio nas imediações da cidade e a Cetesb acompanhou o projeto. Os pneus, inteiros, foram colocados manualmente dentro da erosão. Uma camada de terra, retirada ao redor da própria erosão, foi colocada por cima, de modo a deixar os pneus totalmente enterrados. Segundo o professor, o total de pneus usados no projeto piloto equivale à produção anual de Piracicaba.

A pesquisa previa o preenchimento da erosão, o plantio de capim e o reflorestamento do local. - Agora falta apenas completar a terceira etapa com o plantio das árvores - afirma. Segundo Sparovek, a técnica representa uma alternativa a mais para a destinação final de pneus. - Ela apresenta benefícios ambientais diretos, pois recupera uma área erodida e auxilia na recuperação de florestas - afirma.

Segundo dados do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, o passivo ambiental de pneus no Brasil gira em torno de 100 milhões de carcaças. A destinação usual destes pneus é a queima em cimenteiras para recuperação da energia. - Apesar de ser um destino legalmente autorizado e evitar os riscos da estocagem inadequada (criador de insetos vetores de doenças), não há ganhos ambientais diretos como o controle de grandes erosões ou recomposição florestal - declara Sparovek. Impacto ambiental

De acordo com o engenheiro agrônomo Dauton Marcelo Cappi, o pneu é um material cujo tempo de decomposição na natureza é indeterminado. Para avaliar se ele causa algum tipo de dano ao solo ou ao lençol freático, Cappi pesquisou o tema em seu mestrado por meio de simulações em laboratório. O estudo foi orientado por Sparovek e foi apresentado em 2004 na Esalq.

O pesquisador trabalhou com 40 colunas de tubo PVC preenchidos com camadas de solo, pneu picado misturado com solo, e uma última camada de solo. Durante 120 dias, os tubos foram umedecidos com água destilada. O líquido drenado passou por testes para detectar a presença de metais pesados (zinco, cobre, manganês e ferro). - No geral, a liberação desses metais ficou muito abaixo dos índices estabelecidos pela Cetesb - conta o engenheiro. Após os 120 dias, as colunas foram desmontadas e o engenheiro analisou o material para saber se o solo adsorveu (reteve) os metais. - O teor de zinco foi um pouco alto, mas não chegou a atingir os valores indicados pela Cetesb - explica.

Em seguida, Cappi colocou o material em vidros hermeticamente fechados, durante 80 dias (teste de respirometria). O procedimento indica se a presença do pneu no solo interferiu em sua microfauna (microbiota). - Esse teste serve de alerta, pois em um solo contaminado, não há respiração dos microoganismos - conta. Os resultados foram positivos, pois indicaram um estímulo ao crescimento da microbiota.

Potencial da técnica

O pesquisador elaborou uma estimativa em que demonstra que uma única erosão de grande porte de uma área rural de Piracicaba absorveria toda a geração de carcaças de pneus da cidade referente aos últimos 80 anos. - Isso mostra o grande potencial da técnica como alternativa para a destinação final de pneus - afirma o engenheiro.

Para que a metodologia possa ser colocada em prática, é necessário que a legislação aprove a técnica. Sparovek conta que já entrou em contato com o Conama, porém ainda não obteve resposta sobre o assunto. (Ambiente Brasil, 15/06)

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