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2005-06-14
Proteger o Uacari-de-Novaes (Cacajao novaesi) e o Uacari-branco (Cacajao calvus) - duas espécies de primatas que correm sérios riscos de extinção - é um dos principais objetivos da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uacari, anunciada no início deste mês pelo governo do Estado do Amazonas. A nova reserva possui cerca de 611 mil hectares e localiza-se no município de Carauari (AM).

Consideradas como ameaçadas de extinção tanto pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) como pelo governo brasileiro, as duas espécies raramente são encontradas juntas no mesmo território - o que acontece na nova RDS. Antes da criação da nova unidade de conservação, o Uacari-branco era protegido apenas na RDS de Mamirauá. O Uacari-de-Novaes, por sua vez, foi registrado apenas em alguns trechos de floresta de várzea ao longo do rio Juruá, tendo o comportamento e ecologia ainda muito pouco conhecidos.

- A iniciativa do governo do Estado do Amazonas em criar esta reserva é louvável, pois demonstra que as espécies ameaçadas são consideradas pelo Estado como um dos elementos importantes para selecionar as áreas que devem ser protegidas - comenta José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ciência da ONG ambientalista Conservação Internacional.

Descrição das espécies – O Uacari-Branco é considerado um dos primatas menos conhecidos da Amazônia. Descrita em 1847, a espécie é encontrada exclusivamente em áreas de florestas inundadas da região amazônica e pode estar distribuída ao longo das várzeas dos rios Japurá e Juruá. Possui como características mais marcantes a face vermelha, a pelagem branca e a cauda curta. O Uacari-de-Novaes foi descrito em 1987 pelo mastozoólogo norte-americano Philip Hershkovitz para homenagear o zoólogo brasileiro Fernando Novaes; ambos já falecidos. Novaes trabalhou durante anos no Museu Paraense Emílio Goeldi e foi um dos pioneiros na investigação científica sistemática sobre a fauna amazônica. Considerado originariamente uma subespécie do Uacari-Branco, o Uacari-de-Novaes possui pelagem avermelhada e foi considerado recentemente como uma espécie distinta por apresentar grandes diferenças genéticas em relação às outras populações de Uacaris-Brancos. - Meus estudos indicam que o Uacari-de-Novaes está separado das outras populações de Uacari-Branco há pelo menos 2,5 milhões de anos - explica a bióloga Wilsea Figueiredo, pesquisadora da Universidade Federal do Pará e responsável pela descoberta.

Importância da Reserva
A RDS do Uacari forma, juntamente com a Terra Indígena Rio Bia e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Cujubim, um mosaico de áreas protegidas com quase 4,5 milhões de hectares. Abriga cerca de 300 famílias - distribuídas em 15 comunidades - que se mobilizaram e solicitaram a criação da unidade de conservação ao governo do Estado. - Essa reserva é muito importante para garantir a sobrevivência das populações tradicionais e de várias espécies animais raras e ameaçadas, tais como o peixe-boi, a ariranha e as duas espécies de uacaris - comenta Francisco Ademar da Silva Cruz, Secretário-Adjunto de Extrativismo do governo do Amazonas e um dos líderes no processo de criação da reserva.

Novas unidades no estado - O governo do Amazonas criou, junto com a RDS do Uacari, mais três outras reservas: a RDS Rio Amapá, no município de Manicoré; a RDS Canumã e a Reserva Extrativista Guariba, no município de Borba. Juntas, as quatro reservas somam cerca de 1,1 milhão de hectares. Dados como este revelam como, nos últimos dois anos e meio, o governo do Amazonas duplicou - com o Programa Zona Franca Verde - de sete para quase 15 milhões de hectares a área de unidades de conservação estaduais. - Estamos dando uma receita ‘do bem’ para a conservação de nossas florestas. Melhoramos a cadeia produtiva florestal, fizemos a regularização fundiária, criamos novas unidades de conservação, estabelecemos diversas parcerias e fortalecemos a fiscalização ambiental - enfatiza Virgílio Viana, Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas. As novas reservas de desenvolvimento sustentável do Estado do Amazonas foram criadas com o apoio do Projeto ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia) - do Governo Federal - e da ONG Conservação Internacional.(Eco Agência, 13/06)

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