Barragem – Deputados petistas teriam ajudado três foragidos do MAB
2005-06-13
Dois deputados federais do PT -Adão Pretto (RS) e Luci Choinacki (SC)- são suspeitos de financiar a fuga de três integrantes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) que tinham prisão preventiva decretada pela Justiça de Santa Catarina.
Em depoimento no dia 16/05 à juíza Adriana Lisboa, da comarca de Campos Novos (SC), Otacílio Mário Rosa, 24, Gilberto dos Santos, 33, e Jeoldemir de Nez, 37, disseram que um carro com o motorista da deputada Choinacki os levou de Erechim (RS) até Brasília, onde ficaram hospedados em apartamento do deputado Pretto.
A pedido do Ministério Público catarinense, a juíza enviou ofícios ao procurador-geral da República, Claudio Fonteles, ao presidente do PT, José Genoino, ao Conselho de Ética e ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), em que pede a apuração de indícios da prática de crime de favorecimento pessoal (pena de um a seis meses de prisão e multa).
Em março, o promotor Ricardo Paladino, de Campos Novos, denunciou dez integrantes do MAB - entre eles Rosa, Santos e Nez - por crimes como formação de quadrilha, ameaça, constrangimento ilegal, desobediência e extorsão. Antes mesmo da denúncia, todos tiveram a prisão preventiva decretada, e hoje já revogada, pela juíza Adriana Lisboa.
Os integrantes do MAB que ficaram foragidos por quase dois meses deram versões parecidas sobre a suposta participação dos deputados. Alegam que não se apresentaram à polícia por orientação de Choinacki e Pretto, para que esperassem o julgamento de um pedido de habeas corpus.
Afirmam ainda que tinham todas as despesas pagas e que foram transportados em um carro preto dirigido por um motorista de Choinacki chamado Nico. Disseram que eram visitados pelos deputados e que ficavam em uma área isolada do apartamento. Mas há diferenças entre as versões. Enquanto Rosa disse que a alimentação deles era levada por Pretto, Nez afirmou que Pretto não permaneceu por lá e que Nico às vezes aparecia trazendo comida. Já Santos declarou que havia mais gente no partamento.
O MAB reivindica direitos de famílias que teriam sido prejudicadas pela construção da hidrelétrica de Campos Novos, usina privada com potência de 880 MW e com previsão de enchimento do lago de 32 km2 para outubro.
Segundo o Ministério Público, de maio de 2004 a março desse ano, os integrantes do MAB promoveram nove bloqueios na BR-470, agrediram e ameaçaram representantes da empresa construtora, entre outros delitos.
OUTRO LADO
Os deputados federais pelo PT Adão Pretto (RS) e Luci Choinacki (SC) negaram a acusação de financiamento de fuga de integrantes do MAB.
Para Pretto, a acusação foi uma orientação do advogado dos três foragidos, Alvenir Antônio de Almeida. — Os depoimentos dos três companheiros têm o mesmo teor. Então é claro que isso é orientação do advogado - disse Pretto.
Questionado pela Folha sobre o porquê da acusação, visto que os deputados têm histórico de apoio aos movimentos sociais, o petista disse que foi sacanagem do advogado e um meio mais fácil de justificar a não-apresentação deles à polícia. — Tenho dezenas de testemunhas que estavam no apartamento e não os viram lá.
Choinacki disse que a versão do trio do MAB é mentirosa. Ela afirmou que não tem carro preto nem motorista com apelido de Nico. A deputada diz ter acompanhou a prisão dos integrantes do MAB catarinense, denunciando agressões que eles teriam sofrido. (Folha de S.Paulo, 11/06/2005)