Chefe da área ambiental do governo dos EUA editava relatórios climáticos
2005-06-13
O chefe do grupo do Conselho de Qualidade Ambiental do governo do presidente George W. Bush, Philip A. Cooney, pediu demissão neste sábado (11/6). A saída de Cooney ocorreu dois dias depois da revelação de documentos segundo os quais ele repetidamente editou relatórios climáticos do governo de forma a lançar dúvidas na relação entre as emissões de gases de efeito estufa e o aumento das temperaturas.
Cooney não tem formação científica. Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Dana Perino, Cooney foi considerado por seus serviços de quatro anos prestados à administração Bush. Perino disse que a decisão não foi relativa sobre as revelações constantes nos documentos. Conforme ela, os documentos em questão datam de 2003.
–Ele acumulou muitas semanas de faltas e decidiu renunciar para passar o verão com a família - disse Perino. Antes de mudar-se para a Casa Branca em 2001, Cooney, de 45 anos, foi advogado do Instituto Americano do Petróleo, a principal instituição que faz lobby para a indústria do petróleo, e acumulou o cargo de líder do grupo do clima, no qual ele enfrentou restrições sobre os gases estufa.
Os documentos, descritos pelo New York Times na última quarta-feira (8/6), apresentavam reações estendendo as defesas de Cooney por lobistas da indústria de petróleo perante a crítica estridente de grupos ambientalistas e uma sátira de Jon Stewart em seu programa de comédias O Show Diário.
A maioria dos cientistas e grupos de ciência, incluindo representantes da Academia Nacional de Ciências, em uma carta liberada no final da semana passada, disse que a relação das emissões de gases estufa e o aquecimento são suficientemente claras para justificar ações dos países para cortarem as emissões.
O presidente da organização National Environmental Trust, uma ONG ambientalista em Washington, Philip Clapp, disse que o problema com o tratamento dado pela Casa Branca à mudança climática é maior do que o poderia ser enfrentado por apenas uma pessoa. –Sua demissão é menos surpreendente do que o fato de que à liderança do lobby da indústria de petróleo sobre o aquecimento global deveria ter sido dado neste tipo de poder sobre as ciências do clima e os cientistas, disse.
Myron Ebell, que durante anos lutou face a restrições sobre a questão dos gases de efeito estufa em favor de grupos ligados à indústria, disse que as ações de Cooney eram parte dos ajustes normais de linguagem nos documentos do governo a fim de mesclar os mesmos com metas políticas.
–A idéia de que apenas cientistas são capazes de lidar com isto é ridícula, disse Ebell, que dirige a política climática para o Instituto de Empreendimentos Competitivos, uma organização de cunho liberal. Segundo ele, os cidadãos devem ser capazes de lidar com essas coisas e decifrá-las, também. – Esta é uma história que foi para os jornais porque a Casa Branca é muito secreta, não porque ele tenha feito algo errado, assinalou. (NY Times, 12/6)