Governo de MT destaca em site obras em desmatamento ilegal
2005-06-09
Cinco dias após a prisão do então secretário do Meio Ambiente de Mato Grosso, Moacir Pires de Miranda Filho, acusado de comandar um esquema de desmatamento ilegal na Amazônia, o governo destacou em seu site oficial que, graças a pavimentação de uma rodovia estadual, a região noroeste de Mato Grosso está se consolidando como a mais nova fronteira agrícola do Estado, muito provavelmente, da Amazônia. O site oficial do governo (www.secom.mt.gov.br) traz a notícia sobre o avanço da obra de asfaltamento da estrada estadual MT-170, no valor de R$ 82,1 milhões paga pelo governo em parceria com produtores rurais. Essa obra, a ser concluída até o fim de 2006, é que favorecerá a expansão da fronteira agrícola, segundo o site do governo.
A estrada de 340 km ligará as cidades de Campo Novo dos Parecis, região grande produtora de soja, a Juína, na divisa com Rondônia, onde o MPF identificou o desmatamento ilegal de florestas dentro da terra indígena dos índios da etnia cinta-larga. Pires, o ex-secretário do Meio Ambiente, é acusado de aprovar desmatamento ilegal em terra indígena no município de Arapuanã, vizinho a Juína, onde vivem índios isolados. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), que acusa Pires de fazer desmatamento em favor do agronegócio, foram desmatados em Mato Grosso 12,5 mil quilômetros quadrados de florestas no Estado em 2003/2004, o que daria 46% da devastação na Amazônia Legal no período. O governador Blairo Maggi (PPS), conhecido como o rei da soja, foi apontado pela imprensa internacional como incentivador do desmatamento para favorecer a expansão da agricultora. Maggi, em entrevista no dia 16 de maio à Folha, negou que promova o avanço da plantação de soja em direção à floresta Amazônica.
A assessoria do governador informou no dia 7 que a estrada vai evitar o isolamento das cidades, na região noroeste, e orientou a reportagem a procurar o secretário estadual de Infra-estrutura, Luiz Antonio Pagot. Pires depôs na Justiça Federal. O depoimento durou uma hora e quarenta minutos. Ele foi formalmente acusado de formação de quadrilha, crime ambiental e crime contra advocacia administrativa. Ao depor, ele negou as acusações. O juiz Julier Sebastião da Silva, a 1ª Vara Federal em Cuiabá (MT), que ouviu o acusado, terá 81 dias para publicar a sentença. O juiz também prorrogou na noite do dia 7 a prisão provisória de cem pessoas envolvidas no desmatamento ilegal, entre funcionários do Ibama , madeireiros e despachantes, acusado de extrair R$ 890 milhões em madeira ilegal de 2003 a 2004. Na PF de Cuiabá, Antonio Carlos Hummel, diretor de florestas do Ibama de Brasília, também prestou depoimento. Após ser ouvido, foi liberado, pois o Ministério Público não pediu a prorrogação de sua prisão. (Folha S. Paulo , 08/06)