Governo do ES quer mais 600 mil hectares com plantios de eucalipto
2005-06-09
Se depender do Governo Estadual, os 600 mil hectares de terras degradadas do Espírito Santo serão plantados com eucalipto. O anúncio de que estes plantios serão estimulados foi feito à imprensa nesta quarta-feira (8/6) pelo secretário de Estado de Agricultura (Seag), Ricardo Ferraço, durante o encontro dos lobistas do eucalipto, em Vitória. Esta monocultura causa degradação social, econômica e ambiental, denuncia a Rede Alerta Contra o Deserto Verde.
A área total do Espírito Santo é de 4.617.907,30 hectares. O setor agrícola produtivo ocupa uma área total de 2.822.465 hectares, equivalente a 61,12% da área estadual, segundo o Governo. O Governo reconhece que 600 mil hectares são áreas degradadas.
Ocorre que grande parte da área considerada produtiva é formada por pastos e cafezais degradados, de baixíssima produtividade. Grande parte destas terras e, principalmente as degradadas, estão em vias de desertificação.
É principalmente para as terras que considera degradadas que o Governo aponta para plantios com eucalipto, como disse o secretário da Seag. Ele considera como potenciais parceiros os agricultores familiares. Os agricultores que aceitarem o programa vão perder: os plantios de eucalipto rendem 25 vezes menos do que a produção agrícola na pequena propriedade, como provou pesquisa realizada em Santa Maria de Jetibá pelo Incaper.
A Aracruz Celulose é a empresa que mais plantios de eucalipto tem no Espírito Santo. Assume ter 252 mil hectares, além da propriedade de outros 133 mil hectares de terras no País. No seu balanço 2004, a Aracruz Celulose além de assumir os plantios próprios, confirma que tem plantios de eucaliptos em 71 mil hectares em parcerias no que chama Programa Produtor Florestal, e que incorporou mais de 3 mil agricultores a este programa. Não incluídos 28 mil hectares do presente que o Governo Paulo Hartung deu no ano passado com seu programa florestal.
Segundo Valmir Noventa, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Estado, os dados divulgados pela multinacional são sempre maquiados: — A empresa tem cerca de 240 mil hectares plantados com eucalipto somente no Espírito Santo, mesmo que diga o contrário. Destes, pelo menos 40% eram áreas de Mata Atlântica intocada ou em adiantado estado de recuperação.
Para realizar seus plantios, a Aracruz Celulose ilhou os poucos quilombolas que conseguiram resistir em suas propriedades, e também tomou terras dos índios e de pequenos agricultores. Seus plantios reduziram os estoques de água na região norte capixaba e, com o emprego de venenos agrícolas, intoxica e mata gente, além de destruir a flora e a fauna.
Agora, com a proposta do Governo do Estado, os danos ambientais sociais e econômicos produzidos pelo eucalipto no Espírito Santo poderão triplicar. O Governo sequer considera a possibilidade de empregar vegetação nativa - algumas espécies da Mata Atlântica crescem mais rápido do que o eucalipto, espécie exótica.
Afirmou Valmir Noventa: — A luta dos movimentos sociais é mostrar à sociedade que a forma de usurpação da terra e os plantios gigantescos de eucalipto prejudicam a todos. O agronegócio é a falência da pequena propriedade, de onde sai os alimentos para a mesa do brasileiro.
A Aracruz Celulose teve lucro líquido de R$ 1,870 bilhão em 2003 e em 2004. Segundo cálculos do MPA divulgados em 2003, em 30 anos, a Aracruz Celulose recebeu favores do Governo Federal que totalizam R$ 13 bilhões. Neste período, todo o dinheiro aplicado em agricultura pelo Governo Federal do Espírito Santo totaliza apenas R$ 1,5 bilhão.
O controle acionário da Aracruz é exercido pelos grupos Safra, Lorentzen e Votorantim (28% do capital votante cada) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (12,5%). As ações preferenciais da empresa, perfazendo 56% do total do capital, são negociadas nas Bolsas de Valores de São Paulo, Nova York e Madri. Já a Veracel é parceria da Aracruz Celulose com a Stora Enso (cada uma com 50% do controle acionário).
Os lobistas do eucalipto e do pinus, entre outras espécies, estão reunidos no Fórum Brasileiro de Florestas Plantadas desde esta quarta-feira (8). O evento, no Centro de Convenções de Vitória, conta com apoio do Governo do Estado através da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag). (Século Diário, 8/6)