Pesca artesanal em Rio Grande é insustentável, aponta pesquisa
2005-06-08
Pesquisa realizada pelo economista e mestre em Educação Ambiental pela Furg, Aléssio Almada da Costa, entre 2002 e 2003, definiu o perfil dos pescadores rio-grandinos e analisou a sustentabilidade da atividade de pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos, mais especificamente em Rio Grande. Para o estudo, Costa realizou 623 entrevistas com famílias de pescadores artesanais, abrangendo 866 trabalhadores da pesca, em sete comunidades do Município (zonas urbana e rural). E concluiu que a pesca artesanal, da forma como é praticada no estuário, em Rio Grande, é insustentável. Foi detectado também que, em média, 85% dos pescadores estão descontentes com a atividade.
Esses dados, segundo Costa, são preocupantes, pois a pesca artesanal é uma atividade importante, considerando o grande número de famílias que dela tiram seu sustento e pela sua característica histórica, uma vez que é realizada desde o fim do século XIX. O trabalho foi realizado em busca de uma estratégia de transição para a sustentabilidade no sistema ambiental da pesca artesanal em Rio Grande/RS – Estuário da Lagoa dos Patos. Para tanto, o pesquisador precisava de informações sobre os aspectos social, econômico, cultural, espacial e ambiental da vida das famílias de pescadores. Com apoio de pessoas das comunidades pesqueiras e de um grupo de estudantes de graduação da Furg, buscou-as no próprio ambiente destas famílias.
O levantamento mostrou que esses pescadores praticam pesca exclusivamente de subsistência, com baixa acumulação de capital, e que a atividade tem forte cunho familiar, com divisão de tarefas no mar e na terra. Aproximadamente 80% dos entrevistados aprenderam a pescar no âmbito familiar, sendo 68% com o pai, e cerca de 80% das mulheres acabam participando das lidas da pesca em terra. E em torno de 85% destas famílias têm nos pescados sua base alimentar. A partir desta constatação, Costa observou que na época do caso Bahamas (1998/1999), além de terem sido impedidos de trabalhar, os pescadores de Rio Grande também ficaram sem essa proteína na alimentação. E até hoje não foram indenizados. Em relação às espécies, os pescadores dedicam-se mais ao camarão, corvina, tainha, linguado e bagre, sendo que 94,1% dos entrevistados atuam na captura do camarão. A pesca do siri tem a participação de 25% dos pescadores abrangidos pela pesquisa. O índice vem aumentando nesta pescaria por causa do valor e da falta de opções para a categoria. Ao longo do trabalho, ficou evidenciado que o valor pago pelos compradores aos produtos da pesca é baixo.
Os principais problemas que afetam a atividade, conforme a categoria, são as traineiras atuando na lagoa, a baixa salinidade, a pesca predatória, a falta de fiscalização e a segurança. O número de pescadores artesanais efetivos em Rio Grande é muito inferior ao de registros na Colônia de Pescadores. A intenção do trabalho foi obter dados que subsidiem políticas públicas mais efetivas para o setor e sirvam de instrumentos para que os próprios pescadores se articulem para conseguir melhorias. (Agora, 07/06)