Luta de irmã Dorothy é relembrada em Brasília
2005-06-08
No dia em que a missionária Dorothy Stang completaria 74 anos, centenas de pessoas se reuniram em Brasília para relembrar sua luta junto às comunidades rurais da Amazônia pelo direito à terra e por um desenvolvimento sem a destruição da floresta. Cerca de 200 pessoas, vestidas com camisetas brancas com a mensagem A morte da floresta é o fim da nossa vida, se sentaram em frente ao Palácio do Planalto segurando fotos da Irmã Dorothy para pedir paz na floresta e a presença efetiva do Estado na Amazônia (1).
— Cada uma destas pessoas representa hoje a própria Irmã Dorothy e sua persistência em defender os direitos a um futuro pacífico e sustentável para a Amazônia e os povos da floresta, disse Adilson Vieira, do GTA (Grupo de Trabalho Amazônico). — Irmã Dorothy chegou a dormir em prédios públicos esperando para ser atendida e nunca desistiu de defender suas crenças junto às autoridades de Brasília. Irmã Dorothy pode ter morrido, mas hoje 200 pessoas estão reunidas aqui para representar o que ela sempre fez: exigir que o governo assuma suas responsabilidade sobre o futuro da Amazônia e de seus povos, completou Carlos Rittl, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
Representantes de diversas entidades participantes do ato público encaminharam ao Presidente Lula um documento cobrando do governo federal ações permanentes para garantir a justiça social, o fim da violência e o combate incisivo ao desmatamento e destruição ambiental. Representando o governo, o secretário Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Nilmário Miranda, recebeu o documento das mãos do Padre Amaro e da Irmã Jane – companheiros de Irmã Dorothy e herdeiros de seu trabalho em Anapu – e de integrantes das entidades que organizaram o protesto. Durante a reunião, Nilmário Miranda reafirmou seu compromisso de apoiar a federalização do caso do assassinato da Irmã Dorothy.
Dorothy Stang foi assassinada com seis tiros no dia 12 de fevereiro deste ano por pistoleiros a mando de fazendeiros da região de Anapu, onde trabalhava desde 1972. Por mais de 30 anos, ela viveu na região da Transamazônica e dedicou quase a metade de sua vida a defender os direitos de trabalhadores rurais contra os interesses de fazendeiros e grileiros da região. Trabalhava intensamente na tentativa de minimizar os conflitos fundiários, principalmente a grilagem de terras, o desmatamento e a extração ilegal de madeira.
Como reação ao assassinato de Dorothy, o governo brasileiro anunciou uma série de medidas emergenciais para conter a escalada da violência no Pará, incluindo a criação de cinco unidades de conservação na Amazônia (um total de 5 milhões de hectares), a suspensão de autorizações de desmatamento em uma área de mais de 8,2 milhões de hectares na BR-163 e o envio de tropas do Exército para garantir a segurança na região. No entanto, as medidas anunciadas carecem de implementação.
Federalização do caso
Representantes das entidades que organizaram o protesto foram recebidos hoje pelo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Arnaldo Esteves de Lima, relator do pedido de federalização do caso, e entregaram um abaixo-assinado com 13 mil nomes apoiando a federalização. O ministro confirmou que o STJ deverá julgar hoje (8/6) o pedido apresentado pelo procurador-geral da República, Carlos Fonteles, de deslocar para a esfera federal a investigação e julgamento do crime.
À tarde, os manifestantes marcharão em direção ao STJ, onde serão recebidos pelo presidente da casa, o ministro Edson Vidigal, para pedir urgência na federalização do caso. De acordo com as organizações, a impunidade pelo assassinato de Dorothy Stang continua e a federalização é a única justiça possível. O ministro Edson Vidigal já se declarou publicamente a favor da federalização do caso. (Com informações do Greenpeace, 7/6)