Acampamento de caingangues assusta quem vive perto do local
2005-06-07
Contemplar a vista de Porto Alegre proporcionada pela altura do Sétimo Céu nos finais de tarde de domingo, tomando chimarrão ou simplesmente namorando, já não faz mais parte da rotina de quem escolheu as proximidades do Parque Natural do Morro do Osso, na Zona Sul, para viver.
A vizinhança ao acampamento dos índios caingangues, que há um ano tomaram a área na entrada do ponto turístico da Capital, está temerosa. Mas a apreensão vem de antes da agressão sofrida no sábado pelo secretário do Meio Ambiente, Beto Moesch.
Moesch teve o nariz quebrado e sofreu lesões na cabeça e nas pernas depois de ser atacado pelos índios na tentativa de vistoriar uma casa de madeira dentro dos limites do parque. Desde o final do ano passado, afirmam os moradores, os ânimos estão acirrados no acampamento. Até mesmo quem colaborava doando alimentos e roupas às crianças não é mais bem-vindo.
- No final do ano passado, fui levar roupas, como sempre fazia, e eles me disseram para não aparecer mais. Já presenciei um caso de ofensa verbal por parte dos índios. Me mudei para cá em função da paz do lugar. Mas agora não dá mais para ir ao parque - conta Noris Balbuena, presidente da Associação dos Moradores do Morro do Osso, residente há cinco anos na região.
Tanto os moradores do Morro do Osso quanto os do Sétimo Céu, bairros que contornam o local, pedem a remoção do acampamento para uma área na Lomba do Pinheiro, destinada a eles pela prefeitura. Os caingangues, por sua vez, querem a posse dos 328 hectares do parque, alegando que a região foi um cemitério indígena.
Os vizinhos reclamam do acampamento indígena. A presidente da Associação de Moradores do Sétimo Céu, Teresinha Ávila, não quis comentar o assunto por causa do clima de animosidade do bairro. Mas divulgou uma carta ontem em apoio ao secretário.
Este não foi a primeira queixa de agressão no parque. Em maio, 25 pessoas - entre elas haviam três homens - faziam uma caminhada pelo Sétimo Céu quando um índio teria se aproximado empunhando um pau de madeira com um prego na ponta.
- Ele dizia que a gente não podia invadir, que não deveríamos estar lá porque a área era deles - conta a secretária Jane Rocha Lerina, 54 anos, uma das integrantes da turma que periodicamente realiza passeios e caminhadas pela Capital.
Os guarda-parques foram acionados, e o agressor, desarmado. Desde então, não há mais agendamento de passeios. Apenas uma turma veio depois, mas eram ambientalistas. Agora, analisamos os casos, nem todo mundo pode agendar. Um passeio de bicicleta em comemoração à Semana do Meio Ambiente estava programado para domingo, mas não está confirmado - explica a administradora do local, Maria Carmem Bastos.
Desde ontem, um rodízio com 20 guarda-parques está sendo feito no Morro do Osso, agora protegido as 24 horas do dia. A pedido do prefeito José Fogaça, a casa construída pelos índios nos limites do parque não foi demolida ontem. Mas o secretário Beto Moesch pretende fazer isso hoje. - O importante foi que congelamos a situação. Não há ninguém morando lá, e outras casas não foram construídas - diz Moesch.
- Há uma ansiedade em relação a este assunto na vizinhança. O episódio com o secretário só veio a reforçar este sentimento de agressividade por parte dos índios - admite o técnico em telecomunicações Carlos Grinas. (ZH, 07/06)