Os maiores derretimentos de gelo não estão nos pólos, afirma glaciologista
2005-06-07
O derretimento de gelo não está acontecendo nos pólos, mas nas grandes geleiras do mundo, como os Andes, Himalaia, Kilimanjaro, Montanhas Rochosas e várias outras. A afirmação foi glaciologista Jefferson Cardia Simões, professor PH.D do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Ufrgs, que participou neste sábado (4), do Seminário Internacional Protocolo de Kyoto, na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre. O evento foi promovido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS), em comemoração ao aniversário de 71 anos da instituição.
Primeiro brasileiro a pisar no centro do continente Antártico (o Pólo Sul Geográfico) no final do ano passado, Jefferson Cardia Simões explicou que esse derretimento poderá causar aumentos de 70 centímetros a um metro na altura dos oceanos. Esses dados estão longe das previsões catastrofistas, reportagens e filmes sensacionalistas, mas ainda assim de graves conseqüências econômicas, na casa dos vários bilhões de dólares, e sociais, pois os mais atingidos seriam as populações mais pobres, disse ele.
O glaciologista observou, ainda, que o planeta já atravessou vários períodos de congelamento (até 30% do planeta) e de aquecimento. No entanto, o que preocupa agora é a velocidade com que o planeta vem esquentando desde o início da revolução industrial. Mostrando um gráfico das variações de temperaturas, ele mostra uma linha horizontal, quase constante, que subitamente adota uma trajetória quase vertical, para cima. Dos últimos dez anos, citou, nove foram os mais quentes desde 1680.
Isto ele afirma com base nos estudos realizados com amostras de gelo trazidas da Antártica, que têm a propriedade de preservar nas suas profundezas os vestígios da atmosfera terrestre tal como ela era ao longo da história.
A respeito dos efeitos do aquecimento sobre o clima, no entanto, ele diz que não é possível estabelecer uma relação da última seca no Rio Grande do Sul com isso. Faltam dados de longa data, disse, para comprovar se a mais longa estiagem dos últimos 60 anos no Estado seria ou não parte de mudanças cíclicas da natureza na região. Nos próximos 10 ou 15 anos, no entanto, advertiu, é bem provável que o clima comece a manifestar os efeitos do aquecimento global. — Não adianta pensar que isso se resolve com uma nova tecnologia, nós temos é que mudar a nossa maneira de consumo, finalizou. (Ecoagência, 6/6)