Limpeza de tóxicos sem proteção revolta ativistas na Índia
2005-06-06
A retirada de resíduos tóxicos de Bhopal, onde milhares de pessoas morreram
por um escapamento de gás em 1984, está sendo feita por trabalhadores sem
nenhuma proteção, o que provocou a indignação de organizações de defesa dos
direitos humanos.
Mais de cem ecologistas, sobreviventes da catástrofe e ativistas dos
direitos humanos entraram na sexta-feira (3/6) na usina de adubos abandonada
da empresa americana Union Carbide, que agora pertence à também americana
Dow Chemical, para tentar impedir a limpeza do lugar, que exigem há tantos
anos.
Após a decisão judicial do Tribunal Superior de Justiça do Estado indiano de
Madhya Pradesh, que em maio ordenou ao governo regional descontaminar o
lugar antes de 20 de junho, as autoridades iniciaram na terça-feira a
limpeza do material tóxico de um modo que, segundo as organizações
humanitárias, viola os direitos humanos.
Viruta Gopal, do Greenpeace Índia, disse que o governo contratou
trabalhadores desempregados para limpar as milhares de toneladas de resíduos
químicos e pesticidas perigosos que há ainda no lugar, e que isso é
absolutamente inaceitável. –Homens vestidos com bermudas e camisetas estão carregando e descarregando sacos de material altamente perigoso sem usar sequer uma máscara, acrescentou.
Rachana Dhinga, porta-voz da Campanha Internacional para a Justiça em Bhopal
(CIJB), disse que os trabalhadores estão inalando tóxicos, desconhecem
totalmente o perigo ao qual estão sendo expostos e, além disso, são
contratados para trabalhar por um dia, por isso o governo não terá que
assumir responsabilidades sobre os efeitos que isto pode ter em sua saúde.
O Greenpeace denuncia, além disso, que o governo pretende retirar apenas os
resíduos superficiais, e não descontaminar todo o lugar. Javier Mouro, escritor espanhol, co-autor junto com Dominique Lapierre de Era meia-noite em Bhopal e fundador de uma clínica para o tratamento das vítimas na localidade, disse que isto é mais uma das manobras políticas para seguir enganando as vítimas de Bhopal, que continuam sofrendo as seqüelas do envenenamento de vinte anos atrás.
O escapamento de gás, ocorrido na meia-noite de 3 de dezembro de 1983 em
Bhopal, capital de Madhya Pradesh, no centro da Índia, causou nos primeiros
dias a morte de aproximadamente 6 mil pessoas mas pelo menos outras 15 mil
morreram posteriormente, número que organizações de defesa dos direitos
humanos elevam para o dobro.
Mais de vinte anos depois da catástrofe, muitas das vítimas e seus
familiares continuam sem receber compensação e sem acesso a tratamentos
médicos e mais de 20 mil pessoas se vêem obrigadas a beber água contaminada
diariamente, segundo fontes humanitárias.
Distintas organizações não-governamentais indicam que mais de 100 mil
pessoas sofrem atualmente doenças crônicas, como cegueira, câncer,
tuberculose, doenças respiratórias, depressão, irregularidades menstruais,
problemas articulares e outras provocadas pela contaminação causada pelo
escapamento. (Estadão online, 5/5)