Estudo aponta que guerras e violência são sintomas de problemas socioambientais
2005-06-06
Por Rogério Mosimann
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06), dizer que não há nada que comemorar seria um triste lugar-comum. Apesar da luta de ambientalistas e de algumas poucas vitórias animadoras, o modo de produção e consumo que privilegia o econômico em detrimento do socioambiental está cada vez mais disseminado pelo mundo. Este sistema continua sugando o planeta sem uma verdadeira preocupação com a sustentabilidade. Este modelo gera conflitos entre nações, violência urbana e uma massa de excluídos sociais sem perspectivas de vida. De acordo com o estudo anual Estado do Mundo 2005: Redefinindo Segurança Global, da Ong WorldWatch Institute, atos de terrorismo e as reações que estes provocam são sintomas das fontes que sustentam a insegurança global. Estas fontes incluem pobreza, degradação ambiental, doenças infecciosas e uma crescente competição por água, petróleo e outros recursos.
— Nós somos os convidados, não os controladores da natureza, e devemos criar um novo paradigma para desenvolvimento e para resoluções de conflitos - informa no prefácio da publicação o ex-presidente da extinta União Soviética e atual presidente da Cruz Verde Internacional, Mikhail S. Gorbachev.
Veja abaixo os principais problemas do planeta que contribuem para geração de guerras, conflitos e degradação ambiental, de acordo com o relatório anual Estado do Mundo 2005.
Petróleo
A pesada dependência do petróleo carrega consigo custos e riscos enormes. Gera rivalidades geopolíticas, guerras civis e violações dos direitos humanos. A segurança econômica das nações que fornecem e das que compram petróleo está atrelada pelas constantes flutuações no preço e na oferta. E o modelo econômico e social baseado no petróleo afeta a estabilidade climática causando sérias ameaças à segurança humana.
A produção de petróleo está em queda em 33 países dos 48 maiores produtores de petróleo, incluindo 6 dos 11 membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Nos EUA, a produção caiu de 8 milhões de barris por dia em 1970 para 2,9 milhões de barris/dia em 2004. Neste ano, somente a Rússia e os países do Golfo Pérsico tinham condições para aumentar sua produção. Estes países agora estão chegando perto de seus limites. Outro fato preocupante é o crescimento do consumo em dois dos maiores consumidores, Estados Unidos e China.
Água
A falta de água já tem inflamado violentos conflitos pelo mundo. Cerca de 434 milhões de pessoas atualmente vivem face à escassez de água. A falta ou dificuldade de acesso à água é a maior causa de perda de renda no meio rural, impelindo agricultores a abandonarem o campo e provocando conflitos.
Quatro em cada 10 habitantes do planeta vive em bacias hidrográficas compartilhadas por dois ou mais países. A falta de cooperação entre estes países para a divisão dos recursos hídricos está reduzindo a qualidade de vida das populações, causando problemas ambientais e contribuindo para violentos conflitos.
Alimentação
Aproximadamente dois bilhões de pessoas no mundo passam fome ou sofrem de deficiência nutricional crônica. O acesso a alimentos em qualidade e quantidade suficientes é frequentemente afetado por fatores como disponibilidade de água, distribuição de terra, pobreza e degradação ambiental. Entre as principais ameaças à segurança alimentar estão as mudanças climáticas e a perda de diversidade de espécies de plantas e de animais.
Doenças infecciosas
Estima-se que as guerras do século 20 resultaram em cerca de 1,1 milhão de mortes de combatentes e civis por ano. Atualmente, doenças transmissíveis estão matando 14 vezes mais pessoas por ano. Apesar do dito avanço da medicina e da festejada cura de determinadas doenças, nas últimas três décadas velhas moléstias como tuberculose, malária e cólera tem se espalhado geograficamente, enquanto pelo menos outras 30 doenças antes não conhecidas como Ebola, AIDS/HIV, Hantavirus e SARS estão emergindo como ameaças ao bem estar da humanidade.
A AIDS tem sido a maior causadora de vítimas. O estudo da WorldWatch Institute aponta entre 34 e 46 milhões de pessoas infectadas com o vírus no mundo. Os países menos desenvolvidos economicamente são os mais afetados pela pandemia. Na África Sub-sahariana, a doença está devastando a educação, enfraquecendo militares e afetando a estabilidade política da região.
Desemprego na juventude
Cerca de 100 países em desenvolvimento tem pelo mais de 40% da população adulta com idade entre 15 e 29 anos, caracterizando uma população extremamente jovem. As oportunidades econômicas para esta faixa da população são escassas, especialmente no Oriente Médio e na África Sub-sahariana, onde 21 a 26% dos jovens estão desempregados. No mundo todo são mais de 200 milhões de jovens sem trabalho ou com renda insuficiente para manter a família, o que acaba empurrando muitos deles para crimes, revoltas ou grupos extermistas.
Desafio
Para enfrentar o desafio de mudar este quadro que desafia a segurança global, os autores da publicação Estado do Mundo 2005 convocam a sociedade para buscar um fortalecimento das instituições civis e outros sistemas mais aptos para defender seus interesses. A publicação pede ainda investimentos estratégicos em energias sustentáveis, saúde pública, proteção de ecossistemas, educação, emprego e redução da pobreza para socorrer a população.
— Um mundo mais sustentável e justo é um mundo mais seguro. Melhor do que continuar fortalecendo os músculos militares, os governos deveriam redobrar seus esforços para a segurança ambiental e das pessoas – afirmam os diretores do projeto Estado do Mundo 2005, Michael Renner and Hilary French. (Com informações de worldwatch.org)