Marina defende direção do Ibama, que conhecia irregularidades desde 2003
2005-06-03
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu nesta quinta-feira a postura da direção nacional do Ibama diante das denúncias de exploração irregular de madeira em terras indígenas e áreas de proteção ambiental da Amazônia. Como o jornal O Globo revelou na quarta-feira, a direção do órgão tinha conhecimento das irregularidades desde 2003, mas só nas últimas semanas começou a suspender as autorizações ilegais.
O esquema é alvo da Operação Curupira, desencadeada desde as primeiras horas do dia pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. O diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, teve prisão decretada e se entregou à Justiça. Indagada se o governo não demorou a tomar providências, a ministra respondeu que não.
- Ninguém aqui está sendo surpreendido. Pelo contrário, foi uma ação proativa de nossa parte (...) Não se pode tirar o foco dos bandidos e colocar nas pessoas que estão investigando - disse Marina Silva. A respeito do diretor do Ibama, a ministra disse que não tinha conhecimento do envolvimento dele em irregularidades.- O doutor Hummel não tinha nenhum indício, porque foi ele que cancelou mais de 200 planos de manejo - afirmou. A Operação Curupira foi articulada pelo Ministério Público Federal, que há meses vinha investigando a emissão de licenças irregulares para a exploração da floresta.
O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, disse que a demora na adoção de providências às vezes é proposital.
- Temos a necessidade, para investigar, de deixar roubar. Nós entendemos que deveria ser assim, na medida em que precisávamos reunir elementos de prova - disse.
O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, comemorou a operação como mais uma vitória do governo no combate à corrupção e, indiretamente, estocou os governos anteriores.
Era uma quadrilha que vinha agindo desde antes da criação do Ibama e, só agora, temos uma operação desse tamanho. Antigamente isso vinha ocorrendo, talvez pelo fato de não haver essa atitude de intransigência com a corrupção - disse Bastos. - O pior é empurrar a corrupção para debaixo do tapete - afirmou. Foram expedidos 124 mandados de prisão. A Polícia Federal também está cumprindo 168 de busca e apreensão. Ao todo, 450 agentes federais foram mobilizados. A Operação Curupira está sendo tratada pelo governo como a maior da história da PF. (O Globo, 02/06)