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2005-06-03
A árvore majestosa que é um dos principais símbolos nacionais do Chile está ameaçada. Ruas, escolas, projetos residenciais suburbanos, hotéis, postos de gasolina, frotas de táxi e até mesmo uma gravadora e uma marca de telefone celular --todos invocam e homenageiam a altaneira e robusta sequóia da América do Sul, conforme o alerce é às vezes chamado.

Mas na cidade de Alerce, assim como em várias outras partes do sul do Chile, atualmente há pouquíssimas árvores dessa espécie. Os desmatamentos e queimadas, que desafiam as leis criadas para proteger a espécie, reduziram o seu habitat e o seu número pela metade, e criaram um mercado negro lucrativo, no qual a madeira do alerce pode render até US$ 5.000 por metro cúbico, caso se consiga contrabandeá-la para o exterior.

- A corrupção é tremenda, envolvendo gente muito importante - acusa Adriana Hoffman, bióloga e ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental do Chile. - Sempre há muita conversa sobre a salvação do alerce, mas nada é feito e, como resultado, estamos perdendo parte do nosso patrimônio natural. O que está ocorrendo é verdadeiramente escandaloso.

Apesar da sua semelhança com a sequóia norte-americana, o alerce é na verdade um parente do cipreste, com uma madeira marrom-avermelhada, dura e resistente à água, características que a tornam muito procurada para o uso em construções e em fábricas de móveis. De crescimento lento, especialmente porque prefere solos pobres em nutrientes, que não são aceitos por outras árvores, o alerce não obstante chega a uma altura de mais de 50 metros e a um diâmetro de cinco metros, e algumas árvores localizadas em áreas protegidas têm mais de 3.600 anos de idade.

Desde 1975, a exportação da madeira do alerce do Chile com fins comerciais foi banida segundo a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas. Para proteger ainda mais a espécie, em 1976 o Chile aprovou leis que declararam o alerce um monumento nacional e proibiram o corte de quaisquer árvores vivas. Mas essas regulamentações continham uma brecha que os madeireiros não perderam tempo em explorar. Considerando que é perfeitamente legal derrubar árvores mortas por fogo, raios ou doenças, os traficantes passaram a agir no sentido de provocar a morte da árvore, na esperança de faturarem um bom dinheiro.

O mais freqüente é os madeireiros simplesmente retirarem a casca das árvores ou incendiarem florestas, a fim de queimar os alerces, a fim de que estes possam receber os certificados de óbito governamentais que são exigidos para que as árvores sejam cortadas e transportadas para serrarias. Mas os traficantes costumam também estrangular os alerces com anéis metálicos bem justos colocados em seus troncos. Em uma recente manhã de sábado fria e chuvosa, Jose Dario Carcamo, de 68 anos, acompanhado do filho e do neto, procurava restos de troncos em um local que já foi um bosque de alerces nesta localidade.

O plano deles era recuperar a maior quantidade possível de restos de troncos com machados e serras elétricas, e depois vender a madeira para os vizinhos, como lenha, ou para os artesãos locais, que apreciam o alerce como matéria prima para souvenires entalhados ou instrumentos musicais. - Quando eu era jovem, parecia haver florestas de alerce por toda parte - conta Carcamo, um lenhador aposentado. - Agora o meu neto tem apenas isso, e só Deus sabe o que será deixado para ele.

Autoridades governamentais dizem que os grupos ambientalistas locais daqui e do exterior estão exagerando a dimensão da ameaça à espécie. Eles reclamam de que as reservas de alerce continuam vastas e que a política oficial dá mais resultados do que as alternativas sugeridas pelos críticos. - O alerce não será varrido do mapa neste ano ou no próximo, e tampouco nos próximos mil anos - disse em uma entrevista, em Santiago, Carlos Weber, diretor da National Forestry Corporation, a agência governamental que fiscaliza todos os aspectos do gerenciamento florestal do Chile. - Não estamos falando sobre 50 ou cem árvores restantes, mas sobre centenas de milhares de hectares, muito mais do que a demanda anual do mercado.

Em uma tentativa de proteger o alerce de mais destruição, o Chile criou uma rede de parques nacionais e outras áreas protegidas. Mas o governo reduziu a divisão de crimes ambientais da polícia nacional, e defensores do meio ambiente dizem estar preocupados com outros sinais de falta de recursos e de vontade política para garantir que a lei seja obedecida. –Isso é uma responsabilidade absurda e faz com que se duvide de que o governa esteja falando sério quando diz que fará valer as leis ambientais no sul do Chile - diz Aaron Sanger, representante no Chile da Forest Ethics, um grupo ambientalista norte-americano. - O governo conta com um fiscal para cada 364.500 hectares na região. Assim, fica difícil para um fiscal fazer um bom trabalho de detecção de retirada ilegal de madeira nessas regiões remotas. Os grupos ambientalistas reclamam de que o tráfico ilegal de madeira de alerce é controlado pelo crime organizado, que possui vínculos com políticos poderosos.

No ano passado, uma juíza da região recebeu ameaças de morte após ter dado início a uma investigação de acusações segundo as quais um senador teria pressionado Weber de forma inapropriada para a obtenção de certificados de extração de madeira para eleitores favorecidos. Mais recentemente, Nelson Schwerter, prefeito da cidade de Fresia, a oeste daqui, foi preso e acusado de ser o intermediário em um esquema de contrabando de alerce. Schwerter acusou autoridades judiciais de promoverem uma vendeta com o objetivo de destruí-lo politicamente. Mas cinco cortadores de árvores identificaram o prefeito como sendo o homem a quem venderam ilegalmente o alerce extraído.

Grande parte do alerce enviado ao exterior foi descoberto em locais como o Reino Unido e o Japão. - O alerce é misturado a outras madeiras que não estão na lista de espécies protegidas, e o pessoal da alfândega não consegue identificá-lo - explica Hoffman, que atualmente é diretora do Defensores da Floresta Chilena, um grupo ambiental. Há pouco controle, e ainda menos conhecimento. Mas, apesar do alto preço do alerce no mercado negro, os madeireiros comerciais têm demonstrado pouco interesse em replantar a árvore, por razões econômicas óbvias. O pinheiro e o eucalipto crescem com rapidez suficiente para que possam ser cortadas em até 20 anos, enquanto o alerce requer mil anos ou mais. (UOL, 02/06)

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