Mantega vê outros interesses em crítica a desmatamento
2005-06-02
Ao anunciar a liberação de R$ 137 milhões para
projetos de desenvolvimento sustentável no Acre, o
presidente do BNDES - Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, Guido Mantega,
afirmou que as críticas na imprensa internacional ao
desmatamento na Amazônia são movidas por interesses
outros que não o ecológico.
— Acho que existe má-informação e existem também outros
interesses, muitas vezes, por trás de declarações a
respeito das reservas naturais brasileiras - afirmou
Mantega, na segunda-feira (30/05). — Tem muita gente de
olho nisso e aí ficam dando umas declarações
atravessadas.
Neste mês o governo federal se tornou destaque
negativo no noticiário internacional após a divulgação
pelo Ministério do Meio Ambiente de que a floresta
amazônica sofreu o segundo maior desmatamento da
história. Entre agosto de 2003 e agosto de 2004 foram
destruídos 26,130 mil quilômetros quadrados de
floresta. O recorde ocorreu em 1995, quando foram
desmatados 29,050 mil quilômetros quadrados.
O governador do Acre, Jorge Viana,
convidou Mantega a quebrar um tabu e visitar o Acre.
— Já recebemos Al Gore e Danielle Miterrand, mas nunca
tivemos a presença de um presidente do BNDES no Acre -
disse. — Depois, a gente reclama que os gringos dão
palpite. Mas eles se interessam. Quem não se interessa
são alguns companheiros daqui.
Viana observou que Mantega foi o primeiro ministro do
Planejamento (cargo que ocupou antes de assumir o
BNDES) a visitar o Estado. Ele disse ter tido
dificuldades para obter financiamento no BNDES durante
o governo Fernando Henrique Cardoso e mesmo na gestão
de Carlos Lessa, já no governo Lula. Com Mantega,
porém, o projeto foi aprovado em menos de quatro
meses, tempo considerado recorde.
O dinheiro do BNDES servirá para a
implantação da segunda fase do PIDS - Programa
Integrado de Desenvolvimento Sustentável. O
investimento é considerado por Mantega o maior projeto
social do banco na região norte. O governo acreano
investirá R$ 33 milhões, mas terá de pagar o
financiamento no prazo de dez anos, com juros de
13,25% ao ano. Na primeira etapa do PIDS, iniciada em
2002, o Acre recebeu R$ 50 milhões do BNDES.
Uma das metas do programa é a criação de 11
assentamentos para trabalhadores agroflorestais e
florestais. O governador do Acre, Jorge Viana, disse
já ter assentado 800 famílias e prometeu assentar
outras 1,5 mil até dezembro de 2006. Os assentamentos
ficarão às margens de rodovias asfaltadas e serão
integrados ao programa Luz para Todos.
Outras metas são: crescimento em 80%
das exportações do Estado (US$ 9 milhões em 2004);
elevação da renda na atividade do manejo florestal
comunitário e nos assentamentos florestais; ampliação
das receitas próprias do Estado em mais de 30%;
inclusão de 1,1 mil famílias na economia
agroflorestal; e beneficiamento de mais de 4 mil
índios em ações de capacitação e apoio à produção.
A Fase 2 do PIDS está dividida em quatro partes. A
primeira, Fortalecimento do Turismo e Consolidação do
Eixo Rio Branco-Peru-Bolívia, terá R$ 3,68 milhões
para a implantar o Museu Memorial do Cruzeiro do Sul e
o Museu Memorial Chico Mendes, em Xapuri. A segunda,
Infra-estrutura Urbana, terá R$ 70,88 milhões para
investimentos em transportes e recuperação do Mercado
Municipal da Capital.
A terceira, Infra-estrutura Econômica e de Integração,
contará com R$ 78,05 milhões para recuperação de
estradas, construção de silos graneleiros e portos. A
quarta, Desenvolvimento Social, disporá de R$ 17,1
milhões para estímulo a atividades esportivas e
criação de bibliotecas especializadas em florestas
tropicais. (Estadão Online, 31/05)