Greenpeace critica falta de ética dea revista Istoé Dinheiro
2005-06-02
Nesta edição do Ambiente Já (de 02/06), publicamos na sinopse nacional uma matéria da Revista Istoé Dinheiro com o título Amazônia: querem tomar nossa riqueza. O principal argumento da matéria é que por trás da histeria ecológica há interesses econômicos escusos, dos quais as Ongs internacionais – segundo a revista - seriam representantes das transnacionais afetadas pela competição agrícola do Brasil, especialmente da soja.
A reportagem cita o Greenpeace, mas a organização não foi ouvida sobre as acusações. Em carta ao editor, o diretor executivo da Ong no Brasil, Franck Gugenheim, critica a falta de ética da Istoé Dinheiro e aponta quais os interesses estão por trás do discurso que aponta as Ongs como agentes a favor da internacionalização da Amazônia. Veja a carta, na íntegra:
Senhor editor,
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em seu artigo 14,
determina que o jornalista deve ouvir sempre, antes da divulgação
dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas,
feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou
verificadas. Em seu artigo 10, o mesmo código afirma que o
jornalista não pode frustrar a manifestação de opiniões divergentes
ou impedir o livre debate.
Na última edição de Istoé Dinheiro, de 1 de junho de 2004, na
reportagem Amazônia: querem tomar essa riqueza, verificamos que
essas duas regras básicas do exercício correto da profissão foram
quebradas. Em primeiro lugar, por privilegiar uma única corrente de
opinião a qual, utilizando um nacionalismo exacerbado e alarmista,
enxerga uma ameaça à soberania nas atividades das organizações não
governamentais que lutam pela preservação do patrimônio ambiental do
Brasil. Em segundo lugar, por fazer uma acusação direta ao
Greenpeace sem ouvir a organização, no trecho: — a tese do Greenpeace
é a de que a madeira da Amazônia não deve ser explorada nem mesmo
como manejo florestal. Se os repórteres tivessem ao menos
consultado o website do Greenpeace, teriam visto que o manejo
florestal em bases sustentáveis é uma das alternativas defendidas
pela organização para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Um trabalho responsável de reportagem poderia ter identificado a
verdadeira face de algumas das fontes da reportagem, como Lorenzo
Carrasco, autor do livro A Máfia Verde, publicado por um certo
Movimento de Solidariedade Ibero-Americana (MSIA), também
responsável por um documento contra o Greenpeace que há muito
circula na Internet. Criado nos Estados Unidos por um cidadão de
extrema direita, Lyndon LaRouche, o MSIA tem representações no
Brasil, México, Peru, Colômbia, Venezuela e República Dominicana. O
livro é uma peça delirante que pretende convencer os leitores de que
existe uma conspiração mundial liderada por um certo Clube das Ilhas
para acabar com a democracia e instaurar uma monarquia global
dirigida pelas coroas da Inglaterra e Holanda. Fariam parte desse
movimento, entre outros, órgãos da ONU nos quais o Brasil tem
assento como a Unesco, as fundações Ford, Rockefeller e Jacques
Cousteau, o Clube de Roma, multinacionais do petróleo como a Shell e
até entidades de direitos humanos como a Anistia Internacional. O
movimento ambientalista e os defensores dos povos indígenas nada
mais seriam que peças dessa conspiração inacreditável.
A reportagem afirma, em seu primeiro parágrafo, que o Brasil foi
atacado pela imprensa mundial devido à divulgação dos assustadores
índices de desmatamento de 26.130 quilômetros quadrados.
Consideramos que o Brasil não foi atacado pela imprensa mundial. Na
verdade, o Brasil é atacado dia a dia por aqueles que destrõem seu
patrimônio ambiental em busca de lucros fáceis, sem respeito às leis
do país e aos direitos humanos. Com a perda da cobertura vegetal da
floresta amazônica, o país desperdiça valiosos recursos em
biodiversidade, além de propagar um modelo de políticas públicas e
desenvolvimento que perpetua a miséria e os problemas sociais.
Franck Gugenheim, Diretor Executivo
Greenpeace