Mais de 30 mil toneladas de pesticida poluem a América Latina
2005-06-02
Mais de 30 mil toneladas de pesticidas tóxicos poluem a América Latina, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que triplicam os cálculos feitos até agora. O coordenador do programa de Prevenção e Eliminação de Pesticidas Obsoletos da FAO, Mark Davis, disse em Roma, nesta segunda-feira (30/5), que as previsões anteriores, baseadas em dados dos países da região, calculavam esses resíduos químicos, procedentes dos pesticidas obsoletos armazenados, em 10 mil toneladas.
- No entanto, o problema é muito maior desde o momento em que se comprovou que esse número tem que ser multiplicado pelo menos por três, pois novos indícios situam o total em entre 30 mil e 50 mil toneladas, disse Davis.
Exemplo da gravidade do caso são as cerca de 200 toneladas de pesticidas de grande toxicidade encontradas no norte da Colômbia, num lugar conhecido como El Copey, na região de Cesar. A FAO colaborou com o governo colombiano na operação de limpeza do local, permitindo que os compostos químicos fossem novamente embalados e destruídos. Além disso, as autoridades da Colômbia localizaram cerca de cinco mil toneladas de pesticidas enterradas num local em que famílias de desabrigados tinham se estabelecido e onde há planos para a construção de um complexo residencial.
No Paraguai, há uma campanha para a retirada de 125 toneladas de pesticidas e materiais contaminados que foram danificados por causa de um incêndio em Assunção, em julho de 2003. Os esforços na ocasião para se apagar o fogo poluíram gravemente o Rio Paraguai - afluente do rio Paraná, que desemboca no Atlântico -, o que afetou um povoado próximo onde os moradores agora apresentam sintomas de intoxicação crônica. Devido a este caso, a FAO ajuda o Paraguai a identificar depósitos de pesticidas obsoletos em outras partes do país, mas o órgão da ONU calcula que serão necessários três milhões de dólares para retirar e eliminar os resíduos tóxicos, antes que causem mais danos à população e ao meio ambiente.
Na Bolívia, foram localizadas quantidades de antigas cargas de pesticidas, com compostos de arsênico e produtos para pulverização muito voláteis, em áreas residenciais e perto de grandes reservas hidrográficas, incluindo o lago Titicaca. Segundo os especialistas das Nações Unidas, a Bolívia, um dos países mais pobres da América Latina, precisa de mais três milhões de dólares para eliminar os pesticidas e aplicar medidas para tratar adequadamente as substâncias químicas perigosas.
A FAO organizou um programa regional de formação em nove países da América Latina em que legisladores, membros dos serviços de emergência e representantes da indústria e de ONGs aprenderam a implementar operações de limpeza e a elaborar de forma eficaz e segura o inventário detalhado e a avaliação do risco ambiental dos pesticidas obsoletos. No entanto, o Programa de Pesticidas Obsoletos da FAO precisa de mais recursos para apoiar este trabalho na América Latina, disse Mark Davis.
Por isso, a agência da ONU lançou um pedido aos doadores para permitir que a região cumpra os padrões internacionais nesta área. Os pesticidas obsoletos são remanescentes de campanhas de controle de pragas nos campos de algodão e outros cultivos comerciais. As reservas se acumularam porque alguns produtos foram proibidos por causa dos riscos à saúde ou ao meio ambiente, mas nunca foram retirados e eliminados corretamente. (UOL Notícias, 31/5)