Atingidos por barragens ocupam BID
2005-06-01
Na tarde de ontem (31/5), por volta das 15hs, mais de 300 agricultores atingidos pelas barragens de Cana Brava e Serra da Mesa ocuparam a sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Brasília, para que o mesmo pressione a empresa belga Tractebel Energia para o pagamento da dívida social com os atingidos pela barragem de Cana Brava.
Os agricultores mobilizados em frente ao BID (localizado no Setor de Embaixadas Norte, quadra 802, conjunto F, lote 39) exigem que a instituição cobre providências imediatas da Tractebel para a indenização das famílias e para a reparação das perdas sociais, econômicas e culturais em virtude da construção da barragem.
A Tractebel é a empresa responsável por Cana Brava e o BID foi o principal financiador da obra, que há três anos já está em operação. Em virtude de pressões da sociedade civil organizada, o Banco fez algumas verificações na região para avaliar se as diretrizes de responsabilidade social haviam sido cumpridas pela Tractebel. Três relatórios já foram elaborados por comissões independentes contratadas pela instituição e todos eles constataram as arbitrariedades da Tractebel no trato e no descaso com as famílias atingidas.
Nos últimos dias a Tractebel anunciou a captação de R$ 200 milhões de reais a instituições financeiras para pagar antecipadamente o empréstimo tomado junto ao BID para a construção da obra, no norte de Goiás. Uma tentativa clara de desfazer-se dos compromissos com a população e das pressões do Banco. Os moradores consideraram esta atitude uma promiscuidade da empresa: — Essa multinacional que veio trazer a desgraça para nosso povo deverá pagar pelo que fez. Agora está querendo se livrar de se suas responsabilidades, mas nós estamos organizados para cobrar tudo o que é de nosso direito - diz Nazareth Pereira de Almeida, coordenadora do MAB, que continua: — Nós estamos aqui no BID para exigir o financiador também se responsabilize pelos danos causados, cobrando da empresa resultados imediatos a nosso favor. Há muito tempo a Tractebel lucra com esta barragem e o povo ficou a mingua - finaliza.
Estudos denunciam que em função da barragem, muito focos de dengue foram encontrados na região, assim como a contaminação pela raiva animal de mais de 1500 cabeças de gado, segunda dados da vigilância de saúde animal do município de Minaçú. Outras denúncias recaem sobre o isolamento de comunidades e a falta de acesso à sala de aula a 150 crianças no município de Cavalcante, também atingido pela barragem.
Os manifestantes estiveram mobilizados na semana passada ocupando Serra da Mesa e acampados em frente ao portão de acesso à barragem de Cana Brava. Em Serra da Mesa as negociações avançaram entre o MAB e Furnas, estatal responsável pela barragem, tanto que uma reunião está marcada para amanhã, com o intuito de avançar nas negociações da pauta de reivindicação do MAB. Já a empresa Tractebel se negou a receber o MAB e na sexta-feira pediu a integração de posse da área do acampamento.
Na sexta-feira os manifestante tiveram que se retirar da área para não acirrar o confronto iniciado na quarta, o que ocasionou a prisão de uma liderança do MAB. (Com informações do MAB)