Ambientalistas alertam para impacto ambiental em RO
2005-05-31
Os lagos formados pelas barragens das usinas hidrelétricas de Jirau e do Santo Antônio, que serão construídas ao longo do rio Madeira, em Rondônia, deverão ser maiores do que o sugerido nos estudos de impactos ambientais realizados por técnicos da Furnas Centrais Elétricas e da Construtora Norberto Odebrechet. A declaração é do doutor em Planejamente Energético pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Artur de Souza Moret. — Os impactos ambientais dessas obras terão uma dimensão jamais vista na Amazônia.
Os estudos foram entregues hoje ao Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo Moret, o princípio fundamental da construção das duas hidrelétricas é viabilizar a hidrovia que permitirá escoar a soja do Mato Grosso para a Bolívia e o Peru. — Mas naquele trecho do rio Madeira há muitas cachoeiras. Então ou haverá a construção de novas barragens ou as duas barragens serão mais altas, com uma área de inundação maior. Ambas as opções são ruins - avaliou.
O rio Madeira carrega muito sedimento, porque ainda está em formação. Por isso, segundo Moret, o trecho do rio anterior às barragens ficará assoreado. — O rio Amazonas também sofrerá impactos, porque o Madeira é seu maior tributário em termos de sedimentos - afirmou ele. Outro perigo apontado por Moret é o de fazer vir à tona o mercúrio depositado no fundo do Madeira, fruto de atividades de garimpo. — Isso sem falar na cidade de Porto Velho, que terá sua população aumentada em pelo menos 50%, sem que haja infra-estrutura para receber esses novos moradores - completou. Porto Velho tem hoje 380 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ivaneide Cardozo, conselheira da associação Canindé, uma entidade ambientalista de Porto Velho, alertou para o fato de que há duas unidades de conservação, de proteção integral, próximas à área de influência das duas hidrelétricas: a Estação Ecológica Moji Canava e a Estação Ecológica Serra dos Dois Irmãos. Ela lembrou também que as barragens inundarão sítios arqueológicos indígenas e parte da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Mas, para Ivaneide, os maiores impactos da construção serão sociais. — A população ribeirinha que vive do peixe, ao ser removida, viverá do quê? Os empreendedores falam em geração de empregos, mas quem será realmente beneficiado? As grandes obras usam mão-de-obra barata e só mantêm contratados os profissionais mais qualificados.
As obras das usinas do Jirau e de Santo Antônio deverão começar em junho e durar de oito a dez anos. Elas serão construídas ao longo do rio Madeira e distarão 130 quilômetros e seis quilômetros, respectivamente, de Porto Velho. As duas hidrelétricas terão potencial para produzir 6,3 mil megawatts de energia elétrica, o suficiente para tirar Rondônia e Acre da dependência da energia térmica, cuja matriz prioritário nos dois estados é o diesel. Ambas estão inseridas em um contexto que envolve dois outros grandes projetos, formando um complexo de quatro usinas e uma malha hidroviária de 4,2 mil quilômetros.
(Agência Brasil, 30/05)