Da mata para a farmácia
2005-05-31
Os laboratórios farmacêuticos nacionais, que tradicionalmente ganhavam dinheiro vendendo cópias similares de remédios de marca desenvolvidos por empresas multinacionais, agora estão apostando na própria pesquisa. O foco é o patenteamento de fitoterápicos a partir da flora brasileira. No dia 1, a Aché, maior laboratório nacional, lança um antiinflamatório feito a partir de uma planta nativa da Mata Atlântica, a erva-baleeira (Cordia verbenacea). A pomada Acheflan é indicada para tendinites e dores musculares.
Ao contrário das centenas de extratos de ervas encontrados nas farmácias e lojas de produtos naturais, o Acheflan passou por todas as etapas de pesquisa em laboratório e estudos com pacientes, como uma droga sintética convencional da alopatia. As pesquisas são exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 1995. - Pode ser considerado o primeiro remédio nacional que passou pelas fases de pesquisa exigidas atualmente - comemora João Batista Calixto, professor de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina que participou do desenvolvimento do produto com a Universidade Federal de São Paulo, a PUC de Campinas e a Unicamp. Em sete anos de pesquisa, a Aché investiu R$ 15 milhões. Ainda pouco diante da média internacional, de US$ 800 milhões para lançar cada produto.
- O mais importante dessa pesquisa é deixar claro que desenvolver um medicamento não é só coisa para empresas multinacionais - afirma Luís Carlos Marques, diretor de Assuntos Fitoterápicos da Apsen, outro laboratório nacional, que desde 1995 também vem pesquisando espécies nativas do Brasil em parceria com universidades. A empresa está investigando quatro fitoterápicos para reumatologia, urologia e ginecologia. Planeja já no próximo ano solicitar o registro da Anvisa para um deles. - O caso do Acheflan mostra que criar um novo remédio é possível e que as chances de recuperar o investimento são grandes- diz Marques, da Apsen. (Época, 30/05)