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2005-05-31
Tem berço guerreiro essa rapaziada Tupinikim e Guarani que lidera, no município de Aracruz, a 60 quilômetros de Vitória, os índios na retomada de mais um pedaço de seu território em poder da multinacional Aracruz Celulose. Dois deles descendem do mais importante cacique da nação Tupinikim: são bisnetos do capitão Leopoldino. O outro é filho do cacique Benedito Tupinkim, que liderou a volta inicial dos Tupinikim às suas terras de origem. E os três caciques Guarani são descendentes diretos da grande xamã Tatantin-Wua- Retée.

Eles são os atuais caciques e andam entre vinte e alguns anos e trinta e poucos anos. Na flor da idade e responsáveis por uma unidade, entre as sete aldeias, que resultou na retomada do mais extenso pedaço do seu território reconquistado até agora, cerca de 11 mil hectares.

Uma revelação
Já dos três caciques da linhagem Tatantin-Wua Retée, dois são bisnetos e um é neto. O neto é Werá Kwaray, da Aldeia Boa Esperança, e os bisnetos são Werá Decupê, da Aldeia Três Palmeiras, e Kwaray Peru, da Aldeia Piraqueaçu. A bem da história, foi a Xamã Tatantin quem realmente comandou a primeira ocupação de uma área indígena em poder da Aracruz Celulose. Um sonho (que os índios tratam como revelação quando ocorrem com os seus guias religiosos) havia lhe indicado a atual Aldeia Boa Esperança como local da Terra Sem Males, que o seu grupo vinha buscando pelo litoral desde o Rio Grande do Sul, de onde partiram nos anos 40.

Só depois dessa ocupação, de cunho estritamente mítico, é que os Tupinikim se dispuseram a ocupar uma parte do seu antigo território. Sob a liderança de Benedito Tupinikim, apoderaram-se de uma pequena área em torno de Caieiras Velha, dando inicio real ao processo de retomada do território indígena. Nessa época, anos 70, o País vivia um dos piores momentos da ditadura militar - o auge da repressão.

Repressão que também chegou aos índios. Foram molestados por policiais e, nessa ocasião, se encontrava na chefia do governo do Estado o responsável pela vinda da Aracruz Celulose para o Espírito Santo, Arthur Carlos Gerhardt Santos - cujo o grau de cumplicidade com a multinacional era de tal monta, que foi ser um de seus diretores logo após deixar o governo do Estado.

Esse governador capixaba merece um registro à parte: ainda quando estava à frente do Bandes (nessa época o banco tinha outro nome), no governo Christiano Dias Lopes Filho (final dos anos 60), foi quem fez toda a trama para entregar o território indígena à Aracruz Celulose. Sob o falso pretexto de que não existiam mais índios na região, ele fez o governo transferir as terras dos Tupinikim para a empresa, cobrando um valor praticamente simbólico: 10 décimos de centavos o metro quadrado (a moeda, da época, era ainda o cruzeiro).

Mas quando a Aracruz tomou posse da terra dos índios, o seu território não estava mais inteiro. Os índios já o dividiam parte dele com posseiros, que se aproveitaram do sistema deles de rodízio de plantio agrícola para se instalarem em pequenas glebas, dedicando-se ao fabrico do carvão vegetal para a Companhia Ferro e Aço.

Nessa época da chegada dos posseiros (anos 40), os índios viviam em aldeia e plantavam e caçavam orientados pelos seus caciques, especialmente pelo grande chefe, capitão Leopoldino. Leopoldino se intitulava capitão por ser o chefe de todas as aldeias. Conseqüentemente, ficavam-lhe subordinados também todos os caciques. No período áureo dos Tupinikim, eles chegaram a contar com 32 aldeias, mas depois da chegada da Aracruz as aldeias, numa atitude de autopreservação, se reduziram a quatro: Caieiras Velha, Irajá, Pau Brasil e Comboios.

Emprego da violência

Mas como era estratégico, da parte da Aracruz, tirar primeiro os posseiros do território indígena, através do seu chefe de segurança, coronel PM Argeu Furtado, ela trouxe para a área o major Orlando Cavalcante com o seu grupo de facínoras. Por essa ocasião, ele já era um dos oficiais mais temidos da Polícia Militar e acostumado a lidar com posseiros no interior do Estado em favor dos grandes proprietários. Agia como integrantes de uma entidade criminosa conhecida como Sindicato do Crime.

Prendendo, torturando, espancando, ele não só retirou todos os posseiros de suas posses como também extraiu, com a cumplicidade dos cartórios, toda a documentação necessária para legalizar a transferência das terras para a Aracruz sem alusão a terrenos indígena. Uma artimanha utilizada que transformou esses posseiros em donos das terras Tupinikim (idêntico expediente foi aplicado também em território quilombola, no norte do Estado).

Com isso, a Aracruz pôde legalizar grande parte do território indígena e ainda aumentar a posse de cada um desses posseiros, tendo suas pequenas glebas transformadas em extensas fazendas, quando passadas para as escrituras. Foi a forma encontrada para reduzir ao máximo o terreno indígena, como mais tarde repetiriam a estratégia com o território quilombola. Tanto que se for procurar o registro, hoje, dos 40 mil hectares do território original indígena, não se vai encontrar nem mais a sua metade em registro. Quanto à transação real havida entre a Aracruz e os posseiros - pasmem! - ela pagou somente as benfeitorias encontradas nos terrenos deles.

A violência praticada pelo major Orlando Cavalcante contra os posseiros aterrorizou os Tupinikim. Recolheram-se e outros deixaram a área indígena, sob ameaça do major - de que depois que desse cabo dos posseiros, a vez seria dos índios. Provocou a maior diáspora da história dos índios Tupinikim. Deixaram imediatamente o seu território mais 1.200 índios, entre adultos, jovens e crianças. Tomaram diversas direções dentro do Estado, com maior preferência pela Grande Vitória. (Século Diário, 30/5)

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