Tietê está chegando ao limite, diz secretário de Saneamento
2005-05-30
O Tietê está chegando ao seu limite. Com o crescimento populacional da Grande São Paulo e a contínua impermeabilização do solo, nem as obras de mais de R$ 1 bilhão para a ampliação do leito do rio e a construção de novos piscinões impedirão um futuro caótico de inundações nas marginais paulistanas. A avaliação é do secretário estadual de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, Mauro Arce, que decreta: - Temos dez anos para reverter essa tendência. Ou tomamos juízo ou será o caos. Para ele, é preciso impedir a contínua ocupação das áreas de manancial e haver mudanças nas leis de uso e ocupação do solo que obriguem as novas construções a ter maior área permeável, para reduzir a velocidade com que a água chega ao Tietê, a principal calha da Grande São Paulo.
Leia abaixo trechos da entrevista:
Folha - A obra do rio Tietê foi muito afetada pela inundação?
Mauro Arce - Muito pouco. Só perdemos uma barcaça e uma escavadeira. Mas as empresas têm seguro e não haverá atraso.
Folha - Quando ficará pronta?
Arce - Até o início do próximo verão, creio que até 30 de setembro esteja concluída. Só nos falta escavar 5% do volume total.
Folha - Com a obra pronta não haverá mais inundações?
Arce - Difícil dizer por dois motivos. Primeiro, porque o volume de chuva foi muito grande em pouco tempo. Depois, e mais importante, é que estamos chegando num limite do Tietê. Não há mais espaço físico para grandes obras de engenharia. Temos que continuar fazendo os piscinões previstos para a água chegar dos afluentes ao rio Tietê mais devagar. Mas mesmo assim as áreas possíveis estão acabando.
Folha - O que é possível fazer?
Arce - Uma chuva como a desta semana não causaria tantos estragos há 40 anos, porque a área permeável da cidade era bem maior. Havia menos construções e a água não chegava tão rápido aos rios Tietê e Pinheiros. Havia várzea, onde eu mesmo jogava bola. Hoje, está tudo ocupado. É preciso mudar a lei de uso e ocupação do solo na cidade, obrigando as novas construções de casas e prédios a ter áreas verdes maiores, por exemplo. Também temos de controlar o crescimento da cidade, que ainda hoje explode nas periferias, principalmente nas áreas de manancial (na zona sul), reduzindo a qualidade da água das represas. Caso contrário, ficaremos sem água tratada e com mais enchentes no Tietê, a principal calha da cidade. A natureza está nos dando uma grande lição: ou tomamos juízo ou será o caos.
Folha - Mas e a obra no Tietê, que já custou mais de R$ 1 bilhão? E os piscinões que o Estado está construindo? Não vão surtir efeito?
Arce - Vão. Mas por um tempo limitado, pois a impermeabilização da cidade é um processo contínuo. Já fizemos 20 piscinões, temos mais cinco em licitação e construção e outros 27 em projeto. Mas em alguns anos não haverá áreas disponíveis para construir esses tanques de retenção.
Folha - Em quanto tempo? Dez anos? Vinte anos?
Arce - Se continuarmos nesse ritmo, em mais dez anos chegaremos ao limite do Tietê. Além do mais, a população não gosta de piscinões. E é natural que seja assim. Ninguém gosta de lombada, Febem e feira livre perto de casa. (Folha de São Paulo, 27/05)