Coração do nacionalismo brasileiro, Amazônia atrai estreita vigilância militar
2005-05-27
Num Brasil preocupado em preservar a sua soberania, a
internacionalização da Amazônia, que é ao mesmo tempo
o pulmão do planeta, uma imensa reserva de água e um
paraíso da biodiversidade, constitui uma verdadeira
obsessão.
Segundo afirmam alguns expoentes desse nacionalismo, a
participação americana na luta contra o tráfico de
drogas e contra a guerrilha (o plano Colômbia) seria
apenas a primeira etapa de uma intervenção na
Amazônia.
Os ecologistas são apontados como integrantes de uma
máfia verde e a organização Greenpeace como sendo a
tropa de choque de um governo mundial que estaria
se preparando para tomar conta das suas riquezas.
Um manual escolar americano, que traz um mapa da
Amazônia transformada numa reserva internacional sob
a tutela dos Estados Unidos e da ONU, pareceu
confirmar as denúncias mais alarmistas. O documento
circulou na Internet sob o título: A geografia
segundos os Estados Unidos: será que eles estão
preparando a invasão?.
Consciente da importância desta região desde o início
do século 20, o exército brasileiro confiou ao futuro
marechal Candido Rondon (1865-1958) a missão de
implantar as linhas telegráficas e os marcos ao longo
da fronteira.
Na época, a diplomacia brasileira havia solucionado
todas as divergências com os seus vizinhos, mas as
autoridades sabiam que as linhas de demarcação
permaneceriam permeáveis caso não fossem promovidas
implantações duradouras.
Manobras aéreas
Outrora, os planos do estado-maior brasileiro
concentravam-se num eventual conflito com a Argentina,
a outra grande nação da região. Mas, já faz várias
décadas, a prioridade estratégica deslocou-se para a
Amazônia e a sua fronteira múltipla com seis países
--Bolívia, Colômbia, Guiana, Peru, Suriname e
Venezuela--, sem esquecer a Guiana Francesa.
Os recursos naturais suscitam muitas cobiças, mas a
principal pressão nas fronteiras se deve aos tráficos
de drogas e de armas. Enquanto um serve de moeda de
troca para o outro, eles se alimentam mutuamente.
A segunda preocupação é com a infiltração de
guerrilheiros, que são tentados a buscar bases de
retaguarda do outro lado da fronteira.
Enquanto a Venezuela é acusada de fazer vistas grossas
para as penetrações da guerrilha colombiana no seu
território, este não é o caso dos militares
brasileiros.
Desde o dia 22/05, o Brasil e a Colômbia
vêm efetuando manobras aéreas conjuntas. Brasília
transmite para Bogotá as informações colhidas pelos
satélites do seu sistema de vigilância da Amazônia.
Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
promoveu uma retomada do projeto Rondon, uma
mobilização de estudantes que se destina a incentivar
a conscientização da população em relação aos
problemas da Amazônia.
Implantada durante o regime militar, a sua primeira
versão havia enviado 350 mil jovens para a região. Foi
a pedido da União Nacional dos Estudantes (UNE), um
baluarte da esquerda, que o governo atual ressuscitou
este projeto.
Mais do que nunca, a Amazônia está no coração do
nacionalismo brasileiro. (Le Monde, 26/05/2005)