Reserva Biológica da Serra do Cachimbo pode gerar conflito na região
2005-05-27
A organização não-governamental Instituto Centro de Vida
(ICV), do Mato Grosso, divulgou na terça, dia 24/05, um comunicado discordando
da forma como fora conduzida a criação da Reserva Biológica das Nascentes da
Serra do Cachimbo, anunciada um dia depois da divulgação dos índices de
desmatamento da Amazônia. Segundo o comunicado, o governo criou a reserva
apressadamente e ignorou o processo de discussão que estava acontecendo com
a comunidade local, que sugeria a criação de um Parque Nacional e uma Área
de Proteção Ambiental.
Na semana passada, o Ministério do Meio Ambiente divulgou os dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sobre o desmatamento da
Amazônia do período agosto de 2003 a agosto de 2004. Nesse período, a região
perdeu mais de 26.100 Km2 de florestas. O Mato Grosso continua campeão do
desmate, com aproximadamente 12.600 Km2 de área desflorestada; praticamente
a metade de todo o desmatamento da região amazônica.
Veja a íntegra do comunidado do ICV:
O Instituto Centro de Vida – ICV vem a público declarar a sua discordância
com o encaminhamento dado pelo Governo Federal ao criar, no dia 20 de maio
de 2005, sem realização de consulta pública, a Reserva Biológica Nascentes
da Serra do Cachimbo, com aproximadamente 350 mil hectares na margem leste
da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), no extremo sul do Pará.
Não resta dúvida que essa área tem importância estratégica para a
conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos, pois abriga as
nascentes de mais de vinte importantes rios das bacias do Tapajós e do
Xingu. Portanto, a criação de uma unidade de conservação no local era uma
necessidade, facilitada ainda pelo fato da maior parte da área ter solos
arenosos sem potencial produtivo. Portanto, uma medida em princípio
desejável e necessária, foi prejudicada pela forma precipitada como foi
tomada, desconsiderando dados concretos da realidade local e propostas
existentes para a área, construídas com a participação de produtores da
região. Isso cria dificuldades que poderiam facilmente ter sido evitadas.
A área tem cerca de 26 mil hectares alterados (aproximadamente 8% do total),
entre fazendas de gado e áreas degradadas pelo fogo, e cerca de 650 km de
estradas no seu interior. Isso demonstra a necessidade de um conhecimento
detalhado da situação e de um processo de diálogo com os responsáveis pela
ocupação atual para estabelecer uma unidade de conservação. Esse diálogo
estava em andamento, através de um estudo sendo realizado pelo ICV, com a
participação dos setores locais, representados pela Associação de
Produtores Rurais do Vale do XV. Através desse trabalho estava sendo
elaborada uma proposta de criação de um Parque Nacional e uma Área de
Proteção Ambiental – APA. O Parque Nacional permite alcançar os objetivos
de conservação da biodiversidade e proteção das nascentes, e ainda
aproveitar o potencial da área para turismo ecológico. A APA, categoria de
uso sustentável, permite ordenar e incentivar as atividades produtivas no
entorno do parque.
Essa proposta, oriunda de um processo de diálogo iniciado e incentivado pelo
próprio governo federal (no âmbito do Plano BR-163 Sustentável e outros
programas na região), foi simplesmente desconsiderada, sendo descartada até
a realização de consulta pública.
Diante desse quadro, espera-se que o governo busque readequar os limites e a
categoria da unidade de conservação, negociando as propostas dos setores
locais, numa perspectiva que inclua a possibilidade de compensação de
reservas legais e de regularização fundiária. O ICV se propõe a continuar
os estudos na região, buscando contribuir para a construção de soluções
sustentáveis com a participação da sociedade local. (fonte: Agência de Notícias Ambientais Estação Vida)