Especialistas advertem para falta de água no mundo
2005-05-27
A grave crise de falta de água que afeta cerca de dois bilhões de pessoas no
mundo requer políticas públicas urgentes para melhorar o acesso e garantir o
recurso no planeta, advertiram especialistas de 70 países reunidos na
Guatemala. A falta de água pode causar conflitos entre famílias e até
guerras, advertiu o secretário executivo da Associação Mundial da Água (GWP,
da sigla em inglês), o italiano Emilio Gabbrielli.
–A falta de medidas pode causar graves crises sociais, como já se vê nos
subúrbios urbanos, além disso certamente existe o risco de que possa
provocar guerras, afirmou Gabrielli no final de um encontro de três dias na
Antiga Guatemala, 45 quilômetros ao oeste da capital.
–Realmente pode acontecer uma guerra, já que há guerras entre vizinhos
quando há uma fonte de água limitada. Em todo o mundo há pequenas guerras
locais por pouca água, lamentou. –A única coisa que vejo de positivo nisto
é que a água é um elemento tão fundamental à vida humana que em muitos
casos o conflito se torna uma oportunidade de melhora, comentou Gabrielli.
No Oriente Médio, existem estudos que demonstram que os palestinos e
israelenses em nível político não concordam, mas quando se fala de água
conseguem sentar juntos, disse. –Então, o recurso água talvez possa ser uma
oportunidade de transformar o conflito em uma capacidade de solução e de
trabalhar juntos, avaliou. Para Gabrielli, o mais complicado no mundo é o
rápido crescimento populacional nos últimos 30 anos e o descuido das fontes
de água, pois se pensava que era uma quantidade ilimitada e na realidade é
um recurso limitado.
A diretoria da GWP avalia que a falta de políticas públicas e a pouca
educação da população para o uso racional da água se deve a uma ignorância
coletiva durante 15 anos sobre a importância do recurso.
–Foi em 1992 que se reconheceu internacionalmente que a água é um recurso
limitado, que afeta a realidade econômica de qualquer país, que a solução é
com a participação de todos os setores e que a água é um bem social e
fundamentalmente econômico, explicou.
Entretanto, passaram-se 10 anos e quase nenhum governo levou a sério o
assunto, só fizeram isso em 2002, quando os governos, pelo menos em nível
de consciência, reconheceram que para falar de desenvolvimento sustentável
primeiro tinham que falar sobre o problema de gerência do recurso água,
disse.
–Há algumas perspectivas que dizem que o ponto crítico será por volta de
2025. Se não fizermos algo chegará a um ponto em que haverá uma proporção
bastante grande de países com uma crise muito difícil, advertiu.
No último encontro sobre a água realizado em Johanesburgo, em 2002, os
países fixaram 2005 como data limite para elaborar um plano de gerência
integral dos recursos hídricos, mas as metas não foram cumpridas.
A gerente da GWP, a canadense Margaret Catley-Carlson, concordou que o
crescimento demográfico prolongou a crise da água, pois há 50 anos o planeta
era habitado por 2,5 bilhões de pessoas e agora há 6,2 bilhões. O problema
reside no fato de que são os mesmos rios, lagos e fontes de água que
satisfazem a demanda de toda a população e além disso a água foi afetada
pela contaminação, pesticidas e químicos, lamentou. (Agência AFP/ Terra.com)