No Golfo Pérsico, são construídos arquipélagos artificiais
2005-05-25
Visto do alto, o cenário surpreende: a silhueta de duas enormes palmeiras estendidas sobre o oceano. Mais adiante, outra surpresa: 300 pequenas ilhas artificiais, desenhadas como um mapa-múndi. Estão lá pequenos territórios nos formatos da França, da Flórida, nos EUA, e até uma pequena Antártica em meio ao calor de 27ºC.
O projeto de US$ 14 bilhões que está redesenhando esta região do Golfo Pérsico, na costa dos Emirados Árabes Unidos, é o esforço mais importante - e talvez mais original - empreendido para recuperar terras do mar. Por trás da idéia, está também a ambição de Dubai, um dos sete emirados que formam o país, de competir com Cingapura, Hong Kong e Las Vegas como centro mundial de negócios e entretenimento.
Os ricos já aproveitam para comprar as poucas casas à venda. Pouquíssimas foram construídas, nenhuma está ocupada, e outras existem apenas na planta - o que, neste caso, significa mar aberto. Mesmo assim, propriedades inexistentes são vendidas e revendidas a preços cada vez mais altos. - Temos observado desde o começo. É algo extraordinário - disse Brian Scudder, da empresa Oryx, de Dubai.
Scudder explica que as propriedades, avaliadas entre US$ 780 mil e US$ 1,4 milhão, duplicaram de valor no ano passado. Cerca de 33 ilhas do arquipélago chamado O Mundo, a cerca de quatro quilômetros da costa, foram vendidas a preços entre US$ 7 milhões e US$ 35 milhões cada uma.
Quando o projeto for concluído, em cinco anos, haverá pontes que unirão as três palmeiras ao continente. O aterro para a Palmeira Jumeira, o primeiro e menor dos arquipélagos, foi concluído e espera-se que a construção de 4 mil lojas e casas em seus 19 quilômetros quadrados seja finalizada no início de 2006. O maior dos arquipélagos, a Palmeira Deira, não deve emergir do mar antes de 2009. Mesmo assim, 4,5 mil das 9 mil casas projetadas já foram vendidas, segundo a empresa estatal Najeel.
Ambientalistas fazem críticas ao projeto
As cadeias Hilton, Marriott, Sheraton e Fairmont formaram sociedades para abrir hotéis nos arquipélagos. Apenas na Palmeira Jumeira deverão ser construídos 23 hotéis. A Kerzner International, da África do Sul, já está edificando o projeto Atlantis, a Palmeira, um complexo hoteleiro de 2 mil quartos, avaliado em US$ 1,1 bilhão e semelhante ao famoso Hotel Atlantis, nas Bahamas. Juntas, as ilhas abrigarão mais de 20 mil residências e lojas, além de cem hotéis, parques temáticos, restaurantes e shoppings.
Tudo parece perfeito. Mas as ilhas artificiais não estão livres de problemas. Ambientalistas dizem que centenas de milhões de toneladas de areia e pedras despejadas no fundo do mar sepultaram recifes de corais e contribuíram para o extermínio de peixes e tartarugas. As ilhas também estariam modificando as correntes marítimas e contribuindo para aprofundar a erosão nas praias de Dubai. Milhares de moradores viverão a apenas 3 metros acima do nível do mar.
Em abril, as ondas arrastaram cinco trabalhadores da Palmeira Jebel Ali. Um deles se afogou. - Se você constrói em uma costa baixa como esta, está exposto a conseqüências graves: uma onda gigante ou a maré alta, por exemplo - explicou Frederic Launay, diretor da organização ambientalista World Wide Fund for Nature em Abu Dhabi, capital dos Emirados. O país, governado por xeques, fica em uma região conhecida principalmente pelos conflitos. Apesar disso, Dubai é uma das cidades mais seguras do mundo - uma realidade bem diferente da do Iraque, menos de mil quilômetros ao Norte. (ZH, 24/05)