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2005-05-24
Depois de romper publicamente com o Governo Lula, deixando de integrar sua base de apoio, o Partido Verde ainda não digeriu que, entre o ano de 2003 e 2004, o desmatamento na Amazônia tenha chegado a 26.130 quilômetros quadrados, a segunda maior área desde 1995. — Isso não foi uma gota dágua, foi um oceano inteiro, disse ao ambientebrasil o deputado federal Marcelo Ortiz, líder do PV no Congresso.

Filiado ao partido desde 96, advogado, nascido no município paulista de Guaratinguetá, Ortiz lidera a bancada de sete deputados federais que, unânimes em sua desaprovação à política ambiental do Governo Federal, classificada em nota oficial como desastrosa, resolveram dar um grito de independência. Por telefone, Marcelo Ortiz conversou com ambientebrasil e teceu considerações sobre alguns temas que levaram o partido às divergências que culminaram com a ruptura política.

Sobre a Ministra Marina Silva
Marina Silva faz seu trabalho com devoção, carinho, é efetivamente uma pessoa verde, que tem uma preocupação com o meio ambiente. Mas o Governo tem contrariado as decisões dela, a exemplo da Lei de Biossegurança. O que nós temos é uma biofacilidade e o Governo não pode fazer isso. O PV não tem nada contra Marina Silva. Achamos que ela não está sendo prestigiada.

Sobre a política ambiental desastrosa
A política ambiental desastrosa é a que tem hoje, por exemplo, no Pantanal. Por mais que você tenha uma preocupação de ter uma área de aproveitamento agrícola, isso tem que ser feito através de um plano de manejo. Não somos contra retirar árvores da Amazônia ou da Mata Atlântica, somos contra fazer isso indiscriminadamente. Temos que saber aproveitar a floresta, no que ela tem de plantas medicinais, por exemplo. Tem pessoas que vivem nas matas e que não podem perder seu ganha-pão. Agora, é preciso fazer o zoneamento, para marcar os devidos lugares onde pode acontecer atividades e onde não pode. Cobramos isso demais, porém o Governo jamais nos deu atenção. Essa notícia agora da Amazônia, foram mais de 26 mil quilômetros desmatados, o correspondente ao estado de Alagoas. Antigamente, se dizia que a Floresta Amazônica perdia um Sergipe por ano para o desmatamento. Agora, perdeu uma Alagoas.

Sobre o estopim do rompimento
A gota d´água foi um oceano. Foi exatamente esse desmatamento. O Projeto Sivam detecta uma picada aberta na floresta no prazo máximo de 30 dias. Como é que não detectaram o desmatamento nesse período todo? É um absurdo. O PV tinha que dar seu grito de independência, apesar que é o partido que mais tem lutado contra o Governo nessas matérias específicas.

Sobre a transposição do rio São Francisco
Há necessidade de um estudo nesse sentido. O que o rio tem de água hoje não é suficiente para o projeto. Vai ser uma aplicação sem resultado para o combate à seca. Não temos esse estudo. O Ciro Gomes que o mostre. Não acreditamos, queremos ver.

Sobre o cultivo de transgênicos
Não existe estudo de impacto ambiental, não há o respeito a precauções que devam ser tomadas. Não temos nenhum estudo nesse sentido e hoje está liberado o plantio de soja transgênica no Brasil inteiro.

Sobre a Usina Angra 3
Querem fazer mais uma usina nuclear em Angra dos Reis. Já existem R$ 700 milhões adquiridos em equipamentos e agora vão ter que gastar mais R$ 800 milhões. Agora, o país que exportou a tecnologia de energia nuclear para o Brasil – a Alemanha – hoje tem 20% de energia eólica. A criação de Angra 3 vai representar um aumento de apenas 3% de energia para o país e vai trazer todo o perigo de desastres como os que vemos acontecer frequentemente.

Sobre o comportamento futuro do PV no Congresso
O que for bom para o ser humano, para o meio ambiente e para o país, vamos votar favoravelmente. O que não for, vamos votar contra e vamos dizer o porquê. O nosso partido tem essa preocupação: de explicar as coisas. Somos apenas sete no Congresso, mas somos esclarecidos, sabemos o que estamos votando, não votamos por votar. Cada um de nós acaba se especializando em algum tema. NOTA DA BANCADA DO PARTIDO VERDE
Depois de 28 meses de colaboração com o governo, à espera de que fossem cumpridos os compromissos programáticos no campo sócio-ambiental, a bancada do Partido Verde decide, hoje, retirar-se da base de apoio ao Presidente Lula. Desde a importação de pneus usados, passando pela legalização dos transgênicos e o projeto de transposição do São Francisco, politica industrial equivocada no Pantanal, culminando agora com o desmatamento da Amazônia de 26.130 km2, o governo Lula, desprezando a colaboração da ministra Marina Silva, representa um retrocesso na politica ambiental brasileira.

A morte por desnutrição de 38 crianças guaranis-caiuás em Dourados revelou dramaticamente a ausência de uma política indigenista, assim como os projetos para a construção de mais uma usina nuclear são fatores também que nos impulsionaram para esta tomada de posição. Ao afirmar sua independência, num triste dia onde números astronômicos de desmatamento amazônico são anunciados, o Partido Verde comunica também seu apoio ao esforço de recuperação da imagem do Congresso Brasileiro, apóia a CPI dos Correios e Telégrafos e comunica que vai orientar sua ação parlamentar na crítica a uma política ambiental desastrosa e se identificar com as aspirações legítimas da sociedade por um caminho de renovação, exigindo transparência nas práticas governamentais.

O Partido Verde nasceu com uma proposta de mudança e prosseguirá firme na luta por essa mudança, dispondo-se a apoiar ou rejeitar projetos, como faz na prática, não por uma suposta obediência cega à bancada governista mas a partir de sua consciência ecológica e do programa sócio-ambiental aprovado pela sociedade brasileira. Brasília, 19 de maio de 2005. a) MARCELO ORTIZ , Líder; EDSON DUARTE, vice-líder; LEONARDO MATTOS, vice-líder; SARNEY FILHO; JOVINO CÂNDIDO; FERNANDO GABEIRA; VITTORIO MEDIOLI (AMBIENTE BRASIL, 20/05/2005)

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