Perfil: senadora Serys Slhessarenko, presidente da Frente Parlamentar de Desenvolvimento Sustentável
2005-05-23
Por Carlos Matsubara, de São Paulo
Nunca é tarde para amar a natureza. Depois do fim de um casamento de três décadas e três mandatos de deputada estadual, mais quatro filhos e quatro netos, a senadora, Serys Slhessarenko de 58 anos voltou a amar. Está com um pé no Verde.
Não se enrole com o nome dela. É ucraniano e se pronuncia silesiarenkon . Chegou no Senado pelo PT do Mato Grosso e caminha para tornar-se uma ambientalista de mãos cheias. Antes de pisar em Brasília, fez seu nome na política local. Hoje, divorciada há um ano do marido, foi seduzida pelas questões ambientais. — Não me considero uma ambientalista, diz. E completa — Não ainda pelo menos.
O que sempre a motivou na política foi a defesa intransigente dos direitos das mulheres. Diz que chegou a causa ambiental em razão da luta pela vida, que sempre a norteou. Fala isso, lembrando que tem quatro filhos e quatro netos, para os quais deseja um planeta melhor para se viver. — Não estamos só querendo proteger o meio ambiente, estamos protegendo a nossa vida! — exclama, com todo repertório de gestos e caretas que deve conhecer.
— De que adianta dinheiro no bolso se as alergias e doenças tomam conta de nossos corpos — fala desta vez quase aos berros.
Serys é agitada, fala e pensa com rapidez típica de quem vive há muito na política. Nela ingressou assumindo a Secretaria de Educação do Mato Grosso na década de 1980, pelas mãos do então governador Carlos Bezerra, do PMDB. Nesta época ela ainda não era filiada ao PT, tampouco nutria maiores preocupações com a fauna e flora de seu querido Estado adotivo.
A senadora nasceu gaúcha de Cruz Alta, terra de Érico Veríssimo. Mas aos vinte e poucos anos virou mato-grossense de orgulho raro. — Defendo aquela terra com unhas e dentes, se for preciso — esbraveja a senadora. Muito por causa da paixão pelas coisas do seu Estado que Serys lutou pela presidência da Frente Parlamentar Mista de Desenvolvimento Sustentável do Congresso Nacional. — Não estamos dormindo, estamos observando, pesquisando a participação de todos os lados, as industrias, os ambientalistas — afirma.
Projetos apresentados ou aprovados? No momento da entrevista, não lembrou de nenhum, mas garante que tem vários. — É só perguntar pro meu assessor, garante. Na tarde da entrevista, seu celular não pára de tocar. Era o Mercadante, aflito com a ausência da senadora em outra daquelas reuniões partidárias. Tenta convencer que, mais importante que aprovar projetos, é estar sempre em defesa das causas pelas quais julga ter sido eleita por seu povo: direito das mulheres, meio ambiente, relações exteriores e software livre. — Não necessariamente nessa ordem, brinca.
A briga da hora é com o governador Blairo Maggi, a quem considera um dos inimigos da floresta no Mato Grosso. Segundo ela, enquanto árvores tombam, o grupo de Maggi comemora aumento no faturamento. — O que este sujeito promove é um verdadeiro horror — critica. O desmatamento em Mato Grosso registrou alta de 6% em um ano, segundo levantamento do governo federal.