Costão Golfe: o perigo da contaminação por nitratos na água
2005-05-23
A contaminação por nitratos na água se dá rapidamente assim que ele entra em contato com a matéria orgânica do solo. O nitrato tem carga negativa e o solo também tem carga eletromagnética negativa. Quando o nitrato atinge o solo e entra em contato com a água, que tem uma molécula polar positiva, ele é atraído pela água, sofrendo então um processo de lixiviação que leva o agente químico automaticamente para as águas profundas.
egundo o Dr Marco Zambrano, gastrenterologista, — há pesquisas que atestam sobre incidência maior de câncer gástrico a partir de água de poços com alta concentração de nitratos, o que foi verificado no Chile mas, em termos científicos, não se pode dizer que a contaminação via fertilizantes à base de nitratos no campo de golfe do Costão do Santinho vai causar câncer gástrico, porque é uma doença de múltiplas causas. Ao ser questionado se beberia água proveniente de um aqüífero sob um campo tratado com fertilizantes, respondeu categórico: — Em tese não.
Fertilização química cresceu desordenadamente
A fertilização à base de nitratos começou no século XIX na Europa, quando toneladas de salitre natural do deserto de Atacama, no Chile, foram exportadas para o continente Europeu, que apresentava baixa produtividade depois de anos de cultivos. Os adubos orgânicos, ricos em nitratos, sempre foram utilizados e a troca dos bois e do arado pelos tratores e outros equipamentos agrícolas foram um dos motivos da carência de nitratos de fontes naturais nos solos. A descoberta dos fertilizantes químicos à base de nitratos, fosfatos e potássio intensificou as monoculturas e a aceleração do processo tecnológico na agricultura cresceu desordenadamente, somando-se ao aumento de nitratos dos dejetos humanos em locais sem tratamento de esgoto.
É o caso do Aqüífero de Ingleses. — Como não há tratamento de esgoto na área onde está o Aqüífero de Ingleses, toda vez que chove intensamente as fossas vazam e contaminam a água com o nitrato natural da urina e das fezes humanas. Seria necessário um tratamento de esgoto na área para impedir esses vazamentos eventuais, que já aumentam os níveis de coliformes e o nitrato na água influenciando em sua qualidade e composição — diz a geógrafa Eliane Westarb, que defendeu tese de mestrado sobre o Sistema Aqüífero Sedimentar Freático Ingleses.
— Quando defendi a tese e durante toda a elaboração da pesquisa minha preocupação era com a contaminação via expansão e ocupação, o que certamente aumenta os problemas numa região de terreno arenoso sem tratamento de esgoto, mas quando fiquei sabendo do empreendimento em cima da única área preservada de ocupação, levei um susto, vi que tudo poderia ser bem pior do que o já existente e previsto — afirma Westarb. A preocupação da geógrafa é compreensível, porque para chegar ao campo de golfe via resort está planejada a construção de um teleférico por cima das dunas, área de preservação ambiental que cabe ao IBAMA monitorar e que em tese não poderia ser explorada.
A salada rica em nitratos
O uso excessivo de fertilizantes associados à irrigação freqüente faz com que ocorra o acúmulo de nitrato (NO3) no tecido das plantas. O nitrato ingerido via alimentos tratados à base de fertilizantes, passa à corrente sangüínea quando se transforma em nitritos formadores de nitrosaminas, substâncias comprovadamente carcinogênicas, especialmente danosas para o estômago e uma das causas apontadas de câncer gástrico pela IARC, Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer.
O aumento dos nitratos nas plantas por adubos nitrogenados já está comprovado no Brasil. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Agronômico do Paraná –IAPAR ( MIYAZAWA et.al.;2001) os alimentos cultivados no sistema orgânico apresentam concentração de nitrato menor do que 1.000mg/kg, enquanto os de cultivo hidropônico, ricos em fertilizantes à base de nitratos, apresentam um teor entre 6.000 e 12.000 mg/kg. O teor de nitratos no cultivo convencional atingiria, segundo a pesquisa, uma média entre os orgânicos e os hidropônicos.
(Por Cláudia Rodrigues, especial para o Ambiente JÁ)