SOS Mata Atlântica vê falha em sua comunicação
2005-05-20
Uma das mais conhecidas defensoras da preservação ambiental no país, a SOS Mata Atlântica admite, ao completar 18 anos de atuação, que precisa se comunicar melhor com quem não é ambientalista para ter resultados mais positivos em seu trabalho. Um estudo encomendado à Clarice Herzog Associados mostrou que alguns entrevistados sequer sabem onde fica a mata atlântica e a confundem com a floresta amazônica. A pesquisa, qualitativa, foi feita por meio de dez discussões em grupo com integrantes de todas as classes sociais e dez entrevistas em profundidade - com cinco jornalistas, três professores, um político e um profissional de gestão ambiental.
A estudante do 1º ano do ensino médio Renata Aluani, 15, respondeu à reportagem que a mata atlântica existe no Norte do país e é a floresta mais preservada - o que não é verdade, já que restam apenas 7% dela e a mata abrange a vegetação natural na faixa entre o Piauí e o Rio Grande do Sul.
O caseiro Aloisio Mahl, 50, que cuida de uma propriedade na cidade de Campos do Jordão (onde essa mata existe), imaginava que a floresta atlântica ocorresse apenas ao lado do mar.
Outro desafio apontado pelo estudo é a falta de noção da população sobre as implicações do desmatamento da mata na vida do cidadão comum (como agravamento da falta de água, aquecimento e menor volume de chuva, aumento de insetos e poluição).
Segundo o presidente da SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin, o maior desafio é ter diferentes discursos para fazer com que toda a população conheça e entenda a importância da preservação. – Os que vivem nos grandes centros não sabem que estão em cima da mata e não imaginam de onde vem a comida, a água. Eles só têm contato com a questão quando estão viajando, a passeio, afirmou.
Novo discurso
Ele tem algumas idéias para atingir os diferentes grupos da sociedade. – Devemos falar para o morador de favela dos riscos de viver nas encostas de morro e para o proprietário de uma casa na praia que seu imóvel ficará muito mais valorizado com a presença da mata ou de uma reserva.
A intenção do novo discurso é fazer com que as pessoas passem de preocupadas para engajadas. – Para isso, é necessário melhorar a comunicação com o público que não está no gueto ambientalista, disse Roberto Klabin.
Segundo a diretora de gestão ambiental Marcia Hirota, no caso da população que mora na Baixada Santista, por exemplo, a conscientização pode ser feita por meio da possibilidade de faltar água no local: é na serra, em uma área de mata atlântica, que ficam 130 nascentes que abastecem os moradores da área.
Marcia lembra outro aspecto curioso da mata: a berimba -árvore de onde é feito o berimbau- é uma espécie típica dessa floresta. – A roda de capoeira não pode acabar, disse. (FSP 19/05)