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2005-05-20
Há duas semanas, o governo afirmava que a taxa de desmatamento, então estimada em 24 mil km2, era uma vitória, pois indicaria a estabilização da destruição da floresta amazônica durante um ciclo de crescimento econômico. De posse dos dados reais, porém, o Greenpeace afirma que o número é alto demais, prova da inoperância do Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento -conhecido como Desmate- lançado com fanfarra pelo Planalto, um ano atrás.

– A gente quer é mais governo brasileiro na Amazônia, afirma Paulo Adario, 55, coordenador da campanha Amazônia da ONG, que já foi acusada de ser tropa de choque do governo mundial. Ou seja, da suposta conspiração para internacionalizar a Amazônia.

Adario, um jornalista que madeireiros da região acreditam ser um engenheiro florestal, criticou a execução do plano a bordo do novo avião anfíbio do Greenpeace. Os adesivos da ONG foram retirados do hidroavião para este seu segundo vôo de longo alcance - ele fica baseado em Manaus e foi deslocado para Brasília para buscar sete jornalistas de quatro veículos (Folha, a agência Reuters, a Rede Globo e o site O Eco).

Além dos jornalistas, embarcaram três membros do Greenpeace: Adario, o piloto Fernando Bezerra e o engenheiro especialista em geoprocessamento Andrew Murchie (que, apesar do nome, é brasileiro). A meta do vôo no primeiro dia era a cidade de Novo Progresso (PA), pólo madeireiro de desmatamento na beira do trecho paraense não-pavimentado da rodovia BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA).

Antes disso, o aparelho sobrevoou a Fazenda Tanguro, em Querência (MT), do Grupo Amaggi (pertencente à família do governador mato-grossense, Blairo Maggi, mais conhecido como rei da soja). Quem duvida de que esse cultivo está contribuindo imediatamente para o desmatamento da Amazônia deveria embarcar num sobrevôo desses.

A relação imediata é óbvia, vista do alto. A maior parte dos pastos abertos antes de a soja chegar já virou lavoura, e a agricultura mecanizada parece avançar agora diretamente sobre essa mata de transição entre cerrado e floresta amazônica que deu nome ao Estado. É uma sucessão de desmatamentos recentes -de 2003 para cá- nos mais variados estágios: matas semiderrubadas, com estradas e pátios de madeireiros, campos com pilhas fumegantes de detritos, terra calcinada e já arada para receber soja ou sorgo.

Após pouso de uma hora para reabastecimento em Sinop (MT), numa das regiões pioneiras da soja do Centro-Oeste, o grupo acompanha a rodovia BR-163 em direção ao norte. O destino é o sul do Pará e sua floresta quase intocada há bem poucos anos.

Não mais. As duas centenas de quilômetros entre a fronteira MT/PA e a cidade de Novo Progresso, o entorno da BR-163 é um mar de áreas desmatadas. Em Novo Progresso, mesmo sem pousar é fácil perceber que só contam por ali duas atividades econômicas: gado e madeira. Com a soja que viceja mais para o sul, completam o trio infernal de commodities que está levando o desmatamento da Amazônia a níveis recordes. Nem as áreas reservadas para índios escapam, embora grileiros e madeireiros sejam proibidos de entrar nelas. Elas sempre serviram de barreira ao avanço da fronteira agrícola. Não a Terra Indígena Baú, por exemplo, dos menkranotires, vizinha da BR-163. São dezenas de manchas de terra arrasada no chão, todas na casa das centenas ou milhares de hectares (cada hectare tem 100 m X 100 m, ou 10 mil m2).

O Brasil, que já é o maior exportador mundial de carne e de soja, logo poderá ser também o de madeira. Embora o mercado interno ainda seja o maior consumidor da madeira amazônica, sobretudo a construção civil do Sudeste, a fatia da exportação vem crescendo. Segundo dados do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), passou de 14% em 2000 para 36% em 2004.

A maior parte (40%) da madeira amazônica exportada vai para a União Européia. Individualmente, o maior importador são os Estados Unidos, com 31%, seguido da China, com 14%. Entre europeus, a França é campeã, com 11% do total. Mas o Brasil poderá perder mercado no Velho Continente, quando entrar em vigor legislação banindo importação de madeira não-certificada, extraída de forma predatória e ilegal.

Para Adario, do Greenpeace, o problema que aflige a Amazônia vem do modelo econômico brasileiro, não só da falta de fiscalização. Ou seja, o governo federal é esquizofrênico, na melhor das hipóteses: tenta manter um verniz verde na administração Lula, com Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente, ao mesmo tempo em que pisa fundo no acelerador do agronegócio.

Das 19 bases prioritárias do Ibama previstas no Plano Desmate, só 3 teriam sido efetivamente aparelhadas, segundo o relatório do Greenpeace. Uma delas é a de Alta Floresta (MT), cidade onde o grupo de jornalistas pernoitou. Às 8h locais de ontem (9h em Brasília), o Escritório Regional do Ibama estava deserto. Só a gaúcha Vânia Zamoner, funcionária de limpeza -que não recebe há quatro meses- estava sentada na porta, sem chave para entrar.

Às 8h25 chega o analista ambiental paranaense Mauro Vieira Baldini, 46, que explica tudo: no dia anterior, final do expediente, havia chegado um fax de Brasília avisando de uma paralisação de servidores federais. Alguém do grupo explica que está interessado em saber como está a situação de quem está na ponta do combate ao desmatamento. Baldini: – A ponta está grossa e cheia de caco de vidro. São três funcionários efetivos no escritório regional, para cobrir uma área de 56 mil km2. Quando há ações especiais, uma equipe de mais oito fiscais pode ser deslocada para Alta Floresta. Baldini diz que já se nota certa inibição dos madeireiros, diante das ações do Desmate, mas que o Ibama sempre chega atrasado. (FSP 19/05)

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