Resíduos tecnológicos influenciam o funcionamento hospitalar. Nova metodologia identifica esses resíduos e propõe ações para minimizar o impacto gerado
2005-05-17
Resumo: Com base nos princípios reduzir, reciclar e reutilizar, a engenheira Sabrina Barros da Silva desenvolveu, em seu mestrado, uma metodologia para identificar os resíduos tecnológicos resultantes das atividades hospitalares. Analisando o setor de radiologia como estudo de caso, a engenheira aponta as possíveis causas dos desperdícios e propõe soluções para minimizar os impactos gerados. Esse é um dos primeiros trabalhos de pesquisa no País que focaliza a questão de resíduos na área de gerenciamento de tecnologia médico-hospitalar.
Resíduo tecnológico é o subproduto resultante dos processos de uso da tecnologia médico-hospitalar que não é mais utilizado no cumprimento da função pretendida, como tubos de raio-x, reagentes químicos, etc. Se esses materiais não forem corretamente descartados, eles podem trazer problema para os usuários (paciente, médico, técnico) e para o ambiente. É o caso dos reagentes químicos, que se forem descartado em um rio, podem contaminar tanto a água como o solo, alterando as condições naturais do ambiente devido à presença de ácido em seu conteúdo. Da mesma forma, os gases gerados por esses produtos químicos, caso não haja um sistema adequado de exaustão, podem provocar irritação nos olhos e problemas sérios no aparelho respiratório dos usuários atingidos.
Em casos extremos, o descarte incorreto desses resíduos pode levar à morte, como aconteceu em Goiânia em 1987, quando diversas pessoas tiveram acesso e manipularam partes de uma bomba de césio 137 (material radioativo). Esse material pertencia a um aparelho usado no tratamento do câncer na Santa Casa de Misericórdia, que foi abandonado com a desocupação do prédio. O contato com o material radioativo matou quatro pessoas e deixou mais 800 contaminadas nos quinze anos seguintes.
Há pouco mais de uma década, os resíduos gerados pelos serviços de saúde vêm se tornando um assunto bastante discutido, resultando, inclusive, em controvérsias sobre os perigos que podem oferecer e as medidas necessárias para evitá-los. “Grande parte das divergências a respeito dos riscos provém da falta de metodologias para reconhecimento e avaliação do problema, o que gera diferentes interpretações dos fatos e comprometendo o encaminhamento de medidas preventivas de segurança” esclarece Sabrina.
Proposta
Sabrina fez o estudo de caso no setor de radiologia de um hospital público de Florianópolis, mas a metodologia pode ser aplicada a qualquer tipo de tecnologia. Baseada na teoria geral dos sistemas, a engenheira dividiu o processo em cinco etapas, visando descobrir onde e como são gerados os desperdícios e quais ações podem resolver o problema. Sabrina também classificou os resíduos de acordo com o risco que provocam e indicou a melhor forma de descartá-los. No trabalho, ela também recomenda os procedimentos adequados para reutilizar ou reciclar os materiais, caso seja possível.
As duas primeiras etapas consistem em levantar dados sobre o processo a ser analisado e depois modelá-lo. Assim, se o hospital quer diminuir a quantidade de produtos químicos descartados depois dos exames de radiografia, a primeira etapa será obter informações sobre o processo e conhecer as normas existentes. Em seguida, todo o procedimento de obtenção do exame de radiografia será detalhado, dividindo-o em sub-processos, atividades e tarefas. No caso citado, os sub-processos seriam protocolagem do exame, realização do exame, revelação do filme e análise dos resultados. Entre as atividades necessárias neste processo estariam, por exemplo, preparar o paciente e o aparelho. As tarefas são descritas como todas as ações necessárias para realizar as atividades.
Depois de conhecer detalhadamente o processo, a próxima etapa é analisar o que está gerando o desperdício. Para isto, a análise divide-se em elementos que definem a qualidade do exame, como equipamentos, infra-estrutura, recursos humanos, entre outros, empregados nas atividades. Dessa forma, o hospital pode identificar em qual etapa do processo o resíduo está sendo gerado. Se o problema estiver nos equipamentos, as possíveis causas para o desperdício são tempo de exposição e ajustes incorretos, limpeza inadequada ou vazamentos. Identificando a causa, o próximo passo é avaliar o que as normas vigentes determinam.
Para a análise de equipamentos de radiologia, Sabrina usou a portaria 453 da ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que estabelece as diretrizes básicas de proteção em radiodiagnóstico médico e odontológico. A norma recomenda que sejam fixadas, em local visível, tabelas de tempo de exposição para melhorar a aplicação da técnica radiológica, evitando assim a formação de resíduos tecnológicos. Baseando-se nessas determinações, são sugeridas as ações necessárias para intervir no processo e diminuir a quantidade de resíduos produzidos.
No hospital analisado pela engenheira, constatou-se desperdício de 7,4% dos filmes e de 40% dos produtos químicos. Os produtos químicos não eram neutralizados e nem descartados com grande quantidade de água no sistema de tratamento de esgoto, conforme recomenda a norma, e o sistema de exaustão apresentou problemas que influenciam na qualidade dos químicos, dos filmes e na saúde dos profissionais.
— Uma das grandes contribuições da metodologia proposta será auxiliar o gerenciamento médico-hospitalar realizado pela estrutura de Engenharia Clínica nos hospitais”, informa a engenheira. O trabalho foi orientado pelo professor do Renato Garcia da área de engenharia Clínica do Instituto.
Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina.
Autor: Sabrina Barros da Silva.
Contato: sabrina@ieb.ufsc.br