Ecologistas confrontados por novos desafios
2005-05-16
Os objetivos são os mesmos, mas os atuais ecologistas precisaram mudar de atitude em relação aos antecessores. No Rio Grande do Sul, uma geração influenciada pela luta do engenheiro agrônomo José Lutzenberger, falecido há três anos, tenta colocar em prática conceitos de desenvolvimento sustentável, energia alternativa, defesa dos mananciais e luta contra queimadas e devastação de florestas.
Dos pioneiros no assunto, ficou o exemplo de determinação. Pertencente à geração inspirada por Lutzenberger e seu pequeno grupo, Kathia Vasconcellos Monteiro, do Núcleo Amigos da Terra Brasil, acredita que as dificuldades atuais enfrentadas pelos ecologistas são tão grandes quanto as daquele período, vivido sob os olhos da ditadura. Para Kathia, um dos maiores problemas é o fato de todos, em especial os políticos, dizerem-se ecologistas e defenderem conceitos como o de desenvolvimento sustentável de forma distorcida e com prioridade para a questão econômica. O número de entidades relacionadas à ecologia tem crescido entre os gaúchos e voltam suas forças para trabalhos de conscientização. Elas têm a vantagem de contar com órgãos ambientais, inexistentes na década de 70, quando surgiu a Associação Gaúcha de Proteção as Ambiente Natural (Agapan), idealizada por um pequeno grupo de ecologistas, liderado por Lutzenberger. - Não precisamos mais dizer que existem problemas porque as pessoas sabem. O que falta é rever a noção de progresso. A sociedade precisa mais de motivação e menos de alarme- ressalta Lara Lutzenberger, presidente da Fundação Gaia, entidade criada pelo pai. Problemas como a estiagem enfrentada pelos gaúchos, racionamento e alterações no gosto da água em função da poluição ajudaram, na visão dos ambientalistas, a aproximar a população de suas causas.
O advogado Augusto Carneiro, 83 anos, faz parte do grupo pioneiro no Estado, que introduziu o termo ecologia, com preocupações mais abrangentes. - A crise ambiental apontava um horizonte triste e os ecologistas ensinaram aos municípios princípios como reciclagem e separação de lixo- lembra. Carneiro diz que conceitos pregados no período ainda são defendidos pela nova geração de ecologistas, mas com menos ímpeto. - A sociedade não defende a ecologia como deveria. Os conceitos estão certos, mas não se luta com a energia necessária- avalia. (CP,15/05)