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2005-05-16
Queimadas e desmatamentos deixaram de ser um problema restrito às fronteiras agrícolas e ao Arco do Desmatamento e passaram a atingir todos os Estados. Esta é uma das principais conclusões da pesquisa divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que pesquisou o meio ambiente nos 5.560 municípios brasileiros.

Os dados são de 2002, mas a pesquisa sobre as condições ambientais nos municípios é inédita e aponta tendências e problemas nas diferentes unidades da federação. O estudo conclui que, embora as queimadas e os desmatamentos sejam mais freqüentes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, elas se tornaram um problema generalizado: prefeituras de todas as unidades da federação informaram a ocorrência deste tipo de agressão ao meio ambiente.

A exceção ficou por conta da Amazônia Ocidental (parte do Amazonas, sul de Roraima e parte do Acre) onde municípios contíguos que abrangem grandes extensões de terra não informaram aos pesquisados terem se defrontado com queimadas ou desmatamentos.

Os principais danos causados pelos desmatamentos e queimadas são a destruição da vegetação, de habitats, a morte de animais, a extinção local de espécies, a perda de matéria orgânica no solo e a sua exposição à erosão. Além disso, contribuem também para o efeito estufa com a liberação de grandes quantidades de gás carbônico para a atmosfera e são também a causa de poluição do ar mais freqüentemente citada pelas prefeituras.

A pesquisa detectou a ocorrência de duas novas frentes de desmatamento. Os focos ainda não são visíveis em fotografia por satélite, mas já causam preocupação entre os prefeitos. Os novos focos podem estar localizados no Amapá e no norte do Pará.

Segundo o IBGE, outro bioma sob ameaça é o cerrado do oeste da Bahia. Nesta região, muitos gestores reportaram ocorrências de queimadas e desmatamentos que alteraram a qualidade de vida e a paisagem. Para o instituto, este pode ser um sinal da expansão agropecuária que já substituiu parte dos cerrados que existiam no Brasil Central por plantações de soja.

A pesquisa não se limita a apontar os problemas, mas também a verificar como a ocorrência de interferências no meio ambiente recebe tratamento distinto nas regiões brasileiras. Se na Amazônia e no Pará o surgimento de queimadas é visto como sinal de degradação ambiental e fator de preocupação, em outras regiões do país as queimadas são associadas à chegada do progresso e ao desenvolvimento econômico.

Nestes casos, os gestores omitem as informações sobre queimadas com receio de que isso prejudique empreendimentos madeireiros, agropecuários e de mineração na região. Os casos mais significativos desta prática foram verificados ao longo da BR 163 (Cuiabá - Santarém), ao norte do Mato Grosso e a oeste do Tocantins, inclusive nas áreas do Arco do Desmatamento. O Arco do Desmatamento compreende a área ao sul e leste da Amazônia, abrangendo municípios do sudeste do Acre, de Rondônia, do norte de Mato Grosso, sul e leste do Pará e oeste do Maranhão.

A pesquisa mostra uma correlação entre queimadas e desmatamento. Entre os 1.009 municípios que apontaram desmatamentos alterando as condições de vida da população, 68% apontaram a ocorrência de queimadas. Entre os 948 municípios que indicaram a existência de queimadas, 72% apontaram também a ocorrência de desmatamento.

Entre os municípios que apontaram estes problemas, apenas um terço tomou providências para tentar combatê-los. Apenas 10% dos municípios que relataram a existência de queimadas e desmatamento receberam dos governos estaduais a gestão dos recursos florestais. Outro dado significativo é que 81% dos municípios com estes problemas possuem órgão ambiental específico. Para o IBGE, desta forma o incentivo ao compartilhamento de responsabilidades pode ser mais eficaz entre a união, os Estados e os municípios. (Correio Braziliense 13/05)

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