Algo cheira mal em Florianópolis
2005-05-10
Uma onda de mau cheiro intrigava há meses os moradores e turistas logo que estes cruzavam a ponte e chegavam à Ilha de Santa Catarina, capital catarinense. Para descobrir as razões da fedentina uma investigação inédita do Tribunal de Contas do Estado saiu dos livros da Casan (a empresa estatal de saneamento) e foi para o campo técnico. Conclusão: o mau funcionamento de uma estação de tratamento e despejo de lodo no mar é a causa do problema. Os picos do mau cheiro ocorrem quando a vazão no sistema de escoamento torna-se tamanha que a estação de tratamento de esgoto da ilha (ETE Insular, na Baía Sul) entra em colapso. Ela desliga as bombas e deixa represar o esgoto nas tubulações subterrâneas do centro da cidade. Após 30 minutos de retenção, a coisa começa a cheirar mal.
A descoberta veio por acaso, porque a Casan nunca divulgou o problema. No ano passado, o TCE fez um estudo para esclarecer se os esgotos produzidos no centro de Florianópolis estavam sendo tratados de acordo com os padrões ambientais. A escolha da estação de tratamento da Casan para investigação foi feita apenas como modelo para treinamento dos técnicos do TCE. Nas aulas, eles foram descobrindo um caso-verdade: que a ETE não funcionava nos conformes. O Tribunal passou então a se preocupar com a funcionalidade da obra, indo além do aspecto meramente contábil. Flagrado o defeito, o TCE apresentou à Casan, em dezembro, um conjunto de 16 ações corretivas necessárias. Só na semana passada a empresa enviou ao TCE um relatório admitindo o transbordamento. O problema é fácil de perceber: a entrada da Ilha - logo após as pontes que são cartões-postais - da cidade, fede em hora certa: das 12h às 14h e das 17h às 19h. É um fedor de matar, daqueles constrangedores. Quem passa de carro fica enojado.
O lodo que transborda dos decantadores da estação chega às águas da Baía Sul de Florianópolis, infestando-as com uma carga de 415 litros de sujeira por segundo. O cálculo consta no relatório do TCE, baseado em estudo feito pela Fundação de Ensino Tecnológico do Estado de Santa Catarina (Fetesc), Fundação de Amparo ao Meio Ambiente (Fatma) e Universidade Federal (UFSC). O lodo é um caldo grosso de dejetos sólidos e sanitários. Dele vem o cheiro. Em seu site, a Casan ainda mantém a promessa de que o serviço não causaria mau cheiro – o que pode ser encarado como uma quebra de contrato com a sociedade. No mínimo, propaganda enganosa. A empresa não tem solução a curto prazo para oferecer. A assessoria de imprensa da Casan destacou o engenheiro químico Carlos César de Almeida Alves para falar sobre o assunto. O servidor garantiu que não há problemas com as tubulações do sistema coletor de esgotos na região central da cidade, mas alegou que não estava autorizado a falar sobre a ETE transbordante - e muito menos sobre o cheiro. No entanto, um funcionário da empresa dá uma pista. Segundo ele, o problema não existiria se tivesse sido instalado um equipamento chamado filtro de turfa, como previa o projeto. Onde foi parar o filtro de turfa?, talvez seja a pergunta a investigar.
O secretário municipal de Habitação e Saneamento Básico, Átila Rocha dos Santos, não quer marolas na baía suja. Consultado sobre o assunto, recorre ao protocolar já-fiz-minha -parte. Ou seja, reconhece o fedor, mas limita-se a tampar o nariz enquanto espera providências.(O Eco, 09/05)