Piracicaba planeja seu futuro
2005-05-10
A paulista Piracicaba ganhou fama nacional pela sua pamonha, pelo rio que lhe empresta o nome, cantado por Tião Carreiro e sua viola caipira, e pela excelência de ensino da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Mas a cidade, distante 160 quilômetros da capital, quer muito mais e já caminha para se transformar em cidade-modelo, utilizando conceitos modernos como o planejamento estratégico. Mandamento-chave nas grandes empresas, a elaboração de planos de desenvolvimento com metas de longo prazo nunca fez parte da administração pública, acostumada a mudar as prioridades de acordo com as trocas de governo. O pontapé inicial da mudança foi dado em 2000 por executivos da americana Caterpillar, maior empregadora da cidade, junto com 450 entidades da sociedade civil em torno do projeto Piracicaba 2010.
A idéia, que se transformou em uma ONG, envolve uma infinidade de áreas e projetos, que vão desde estudos sobre obras vultosas, como o anel viário da cidade, até pequenas iniciativas, como a que obriga profissionais da área de saúde a fazer cursos de reciclagem. O atual prefeito, Barjas Negri (PSDB), ressalta o fato de o Piracicaba 2010 não ser antagônico, mas complementar ao poder público. Fazer com que as pessoas entendam a natureza do projeto e a falta de recursos ainda são os dois principais obstáculos.A revitalização da rua do Porto, às margens do rio Piracicaba, foi o primeiro grande projeto do 2010, e o melhor exemplo de que o programa é viável. Há dois anos, o então prefeito José Machado (PT) conseguiu patrocínio de R$ 4 milhões da Petrobras. No lugar do antigo barranco, agora erguem-se uma pequena pista de caminhada feita de brita, decks em que repousam mesas e cadeiras e um caminho de cimento que avança sobre o rio, onde tranqüilos habitantes se reúnem para pescar. A obra foi pautada pelo respeito ao meio ambiente e obedeceu às diretrizes de um estudo de três anos realizado pela Esalq. A reforma levou nove meses e trouxe de volta o piracicabano aos bares e restaurantes à beira do rio.
A alguns metros do belo casarão em estilo neoclássico da sede da Esalq, no campus universitário, uma sinuosa passarela liga a rua a uma construção de tijolinho aparente. Lá funcionará a Casa do Produtor Rural na Esalq, uma parceria entre a faculdade e o Piracicaba 2010. Prestes a abrir as portas, a Casa será mais uma aliada do agricultor familiar, trazendo informações técnicas de parceiros como o Banco do Brasil, o Sebrae e o Ministério da Agricultura. Mas nem tudo dá certo. Há um ano, um dos principais projetos na área de saúde está paralisado por falta de verbas. O que seria o maior pronto-socorro da cidade espera por aparelhos e pessoal para entrar em funcionamento. É nessa luta para aumentar o cobertor que a sociedade civil de Piracicaba pretende transformar a cidade da pamonha do milho verde em parâmetro nacional de qualidade de vida. (Isto É, 09/05)