Comércio de carvão destrói assentamentos do Incra em Tartarugalzinho (AP)
2005-05-10
A 230 quilômetros de Macapá, no município de Tartarugalzinho (AP), dois assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão sendo destruídos pelo comércio de carvão vegetal. As evidências da produção de carvão para a Metalflora - empresa responsável pela compra do produto para a Sólida Siderurgia - estão por toda parte e colocam por terra as afirmações dos assessores da empresa, Ricardo Assis e Shields Santos, de que a empresa até hoje não comprou sequer um saco de carvão. Máquinas, fornos, carvão, desmatamento e, principalmente, depoimentos de agricultores confirmam o comércio nos assentamentos Cedro e Entre Rios, que estão se desviando da linha de produção agrícola para desmatar e fazer carvão para a Sólida. A empresa, denunciada pelo prefeito de Mazagão, José Carlos Corrêa de Carvalho - o Marmitão -, por devastação ambiental no município, poderá ser investigada pela Assembléia Legislativa. Depois de ver de perto a intensa atividade carvoeira em Tartarugalzinho, deputado estadual Ruy Smith (PSB) pediu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de investigar a instalação da Sólida Siderurgia no Estado.
Há seis meses, 22 fornos de grande porte funcionam em um sítio de propriedade do agricultor Adir Maciel da Silva, apontado pelos assentados como o responsável pela compra da madeira e a produção do carvão dentro dos assentamentos. A estrutura montada em meio à pobreza dos agricultores em plena floresta assusta não só pelo tamanho, mas também pela política adotada pela empresa. A Sólida utiliza-se da manobra de terceirizar a atividade de compra do carvão, através da Metalflora, que monta a estrutura dos fornos nos assentamentos, compra o carvão e vende o produto para a Sólida.
Segundo os assentados, Adir Maciel recebeu financiamento da Sólida para a construção dos fornos e atualmente paga R$ 2 pelo metro cúbico da madeira para a produção do carvão que é entregue à Metalflora. Até o dia 1º de maio era possível encontrar tratores da empresa na sede do assentamento Entre Rios que são usados para fazer o transporte da madeira e de carvão até os fornos.
De acordo com os assentados, cada forno queima em média durante dez dias para produzir 80 sacos de carvão. Quem vende ou já vendeu madeira para Adir Maciel diz que aproveitou madeira das áreas derrubadas para o plantio de roças que são vistas por toda parte. Como nenhum órgão fiscaliza o tamanho do desmatamento dentro dos lotes, fica valendo a consciência ambiental dos agricultores e os interesses da empresa. Adir Maciel não foi encontrado nos assentamentos e nem em Macapá para falar sobre a parceria com a Metalflora. (Folha do Amapá 06/05)