Paraíba tem 30 animais ameaçados de extinção
2005-05-10
Uma volta pelas principais feiras livres da Grande João Pessoa e Campina Grande, e não vai ser difícil encontrar à venda várias espécies de animais na lista dos considerados em perigo de extinção no Estado. Só na Paraíba, existem atualmente 30 animais com risco de desaparecerem completamente, se nada for feito nos próximos anos. A expansão das cidades e ocupação das áreas verdes sem critérios, além do tráfico ilegal de animais estão entre as principais ameaças a essas espécies, em sua maioria, aves silvestres.
De acordo com a Divisão de Fiscalização do Ibama-PB, de janeiro de 2004 até o último mês de abril, foram apreendidos 1.642 animais silvestres no Estado, principalmente nas feiras livres. Na lista entre os de maior número de apreensões, aparecem os pássaros galo-de-campina, o curió, o sabiá, o azulão, o tico-tico e várias outras aves que começam a ser encontradas mais raramente em seus habitats naturais.
E são exatamente elas, as aves, as maiores vítimas do tráfico clandestino, Correspondem a 90% dos animais comercializados de forma ilegal no Estado. Para se ter uma idéia do total de animais da lista de 30 espécies em perigo de extinção do Ibama na Paraíba, 22 são de aves, algumas com risco mais eminente de chegarem a extinção, a exemplo do Udu-de-coroa-azul, Jacu-de-Alagoas, Uru-do-Nordeste, Anambé-de-crista, Anambé-de-asa-branca, Barranqueiro-do-Nordeste, Formigueiro-de-cauda-ruiva, e ainda Maria-do-Nordeste.
A lista também cita em situação vulnerável à extinção: o Besouro-de-chifre, o Gato-do-mato, a Baleia-sei e Jaguatirica. Por fim, considerados criticamente em perigo de extinção, aparecem a Baleia-azul e o Peixe-boi marinho.
Capturar ave é crime e multa chega a R$ 5 mil
Capturar pássaros e outros animais silvestres, seja para servir como animal doméstico ou para comércio ilegal, é crime ambiental e está sujeito a multas que variam entre R$ 500,00 e R$ 5 mil por animal apreendido, além de outras penalidades. Mas, na prática, são poucos os que acabam sendo penalizados realmente por isso. A própria apreensão desses animais, diz o Ibama, já acontece com uma certa dificuldade. Isso, porque as fiscalizações quanto a apreensão e comercialização desses ani-mais não acontece, já que o número de fiscais não consegue atender a demanda em todo o Estado. – Não temos como manter uma frequência maior de fiscalizações nas feiras livres, por exemplo, já que o número de pessoas para atender a todo o Estado é reduzido, confirma o chefe de Fiscalização do Ibama-PB, Ariosto Figueiredo. E se há dificuldades em combater esse tipo de crime ambiental, não falta clientela para o tráfico ilegal de animais, que no mundo inteiro, movimenta todos os anos 20 bilhões de dólares. São colecionadores, criadores e gente que apenas adora a idéia de ter um pássaro raro preso em cativeiro para exibir como troféu. – Se o comércio ilegal existe é porque há quem procure, e a nossa própria cultura da região, das pessoas gostarem de manter animais em cativeiro, contribui para isso, reforça o chefe do Setor de Fauna do Ibama-PB, o biólogo Ronaldo Douglas Pereira.
Campanhas
Segundo ele, mas que fiscalizações, é preciso que aconteçam campanhas educativas nas escolas, junto às crianças e jovens sobre a importância de preservação das espécies da fauna brasileira. A partir de campanhas e de iniciativas de projetos, como o Projeto Tamar, de pre-servação da tartaruga marinha, e o Projeto Peixe-boi Marinho, desenvolvido no Litoral Parai-bano, é que vagarosamente, diz ele, algumas dessas espécies poderiam sair das listas das espécies em extinção.
O biólogo também chama atenção para um outro problema, e que também contribui para o perigo de extinção de al-guns animais silvestres: a expansão das cidades às áreas verdes. Com essa ocupação, diz ele, os animais vão perdendo seus habitats naturais e com isso, a sobrevivência dessas espécies também se torna ameaçadas. É por isso que animais silvestres começam a chegar até áreas urbanas onde não deveriam aparecer.
Tráfico: de cada 10 animais, nove morrem
O mais cruel nos dados sobre o comércio e tráfico de animais está nos números que mostram a mortandade das espécies nessa prática criminosa. Nada menos que de cada 10 animais traficados, nove morrem antes de chegar ao destino final. Mais que isso, quando são recolhidos pela fiscalização, durante as apreensões, estão na maioria das vezes em péssimas condições, com fome, sede, frio, maltratados, e em muitos casos são apenas filhotes.
Na Paraíba, os animais apreendidos durante as fiscalizações feitas pelo Ibama e Polícia Florestal são levados ao Centro de Triagem de Animais Silves-tres (CETAS), que funciona na antiga Mata do Amém, em João Pessoa. O biólogo Ronaldo Douglas explica que quando chegam, os animais são tratados, recebem medicamentos e ficam em quarentena antes de serem encaminhados e soltos em seus ambientes naturais. Os que não conseguem mais se adaptar a vida em liberdade são doados às Reservas Particulares do Patri-mônio Natural (RPPN), que são criadoros credenciados junto ao Ibama de propriedade particular. (Jornal da Paraíba 09/05)