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2005-05-09
por Júlio Carlos Afonso*
O reuso tem uma característica peculiar, que é o baixo a nulo consumo de energia e de insumos para sua realização. Esta é a grande diferença frente à reciclagem. Estamos acostumados a pensar que a reciclagem é a solução perfeita para as questões ambientais que afligem a sociedade moderna. Pura ilusão! Na verdade, dentro do famoso esquema dos 3 erres (reduzir, reusar e reciclar), a reciclagem vem na última posição, isso mesmo, em último lugar. Como ponto de partida, as pessoas que buscam uma conscientização ambiental devem ter em mente que se deve tomar atitudes que reduzam a demanda de matérias-primas para a fabricação dos mais diversos artefatos; evitar o desperdício é uma delas, e das mais acessíveis a todos.

Trata-se também de um grande desafio de ordem educacional e cultural face à inserção das pessoas numa sociedade de consumo e do descartável de hoje em dia. Além disso, existem soluções tecnológicas que permitem a redução da quantidade de matéria-prima necessária hoje à fabricação de um produto: por exemplo, as latinhas de alumínio têm hoje menos 40% de massa que suas congêneres de 30 anos atrás; em outras palavras, consegue-se hoje fabricar mais latinhas com a mesma quantidade de alumínio que nos anos 1970, sem prejuízo da qualidade do produto.

Em segundo lugar, deve-se tentar empregar um determinado produto usado em outra finalidade, evitando exatamente o consumo de outros produtos ou matérias-primas. Um exemplo típico desta prática, o reuso, está no reaproveitamento de embalagens vazias, inclusive para finalidades diversas da destinação original, o que dispensa a compra de embalagens novas. O reuso tem uma característica peculiar, que é o baixo a nulo consumo de energia e de insumos para sua realização. Esta é a grande diferença frente à reciclagem. Quando o material não tem condições de reutilização (como no caso de uma embalagem de vidro quebrada), aí sim lança-se mão da reciclagem. Nela, consomem-se energia e insumos (água, trabalho de pessoas, etc) para transformar o produto usado em novos artigos, inclusive diferentes do produto inicial.

Apesar disso, é muito melhor reciclar resíduos do que descartá-los no meio-ambiente, poluindo-o e ainda por cima pressionando ainda mais as limitadas reservas que a Terra dispõe. Basta citar como exemplo que a reciclagem do alumínio das latinhas e outros objetos permite uma economia de até 95% de energia elétrica em relação ao alumínio obtido a partir de seu minério (a bauxita). A reciclagem se enquadra, como os demais aspectos da questão ambiental, num contexto interdisciplinar: ela tem geralmente como grande vantagem a redução do consumo energético frente à fabricação do mesmo produto a partir de fontes primárias. Ora, a questão do consumo energético prende-se à disponibilidade a partir de fontes fósseis, que são limitadas (petróleo, carvão, gás natural), da energia nuclear (grande geradora de resíduos perigosos) e da energia de origem hidrelétrica, que é dependente do ciclo da água e está sofrendo com as alterações desse ciclo devido às alterações climáticas que pairam sobre o planeta na atualidade.

Talvez por isso a indústria em geral tem dado tanta atenção à reciclagem, inserida em um escopo mais geral que se chama atuação responsável, que tem por filosofia a adoção de procedimentos de melhoria contínua em vários ramos de atividade industrial, com destaque para a redução na emissão de efluentes, controle de resíduos (geração e reciclagem), saúde e segurança no trabalho. Todo o ciclo de vida de um produto químico é cuidadosamente analisado para evitar qualquer risco ao meio ambiente, e a reciclagem é uma das alternativas disponíveis.

A arte da reciclagem é mais complexa do que parece à primeira vista. Não se trata simplesmente de jogar plásticos, embalagens de aço, alumínio, papéis... num determinado processo. Deve-se mencionar que existem diversas precauções a serem tomadas quando se deseja empreender um negócio neste ramo. Vejamos alguns exemplos: não se recicla vidro comum misturado com pyrex, vidro incolor com vidro marrom (ou âmbar); a presença de líquidos oleosos mata a reciclagem do aço; o papel molhado ou sujo com gordura inviabiliza a reciclagem do mesmo (por isso, papéis toalhas e guardanapos não são recicláveis); o velho papel carbono não se recicla; o óleo usado não pode ser reutilizado sem que passe por um processo de purificação (o re-refino); a reciclagem de baterias de chumbo (de automóveis) exige a tomada de medidas de proteção à saúde dos trabalhadores (pois o chumbo é um metal pesado causador de sérios distúrbios à saúde humana, conhecidos em conjunto como saturnismo). E assim vai...

Em conjunto com esses aspectos mais técnicos, não se pode descuidar de dar uma olhada constante nas legislações ambientais do Brasil e mesmo do exterior sobre resíduos em geral. Nenhuma atividade pode se feita sem o conhecimento e a obediência às regulamentações sobre o setor, sob pena de sanções que podem até comprometer a viabilidade do empreendimento. Não basta apenas conhecer as regulamentações, pois elas muitas vezes estão sujeitas a revisões. É o que acontece em nosso país, atualmente, com as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), um dos colegiados do Ministério do Meio Ambiente, sobre pilhas e baterias (resolução 257/99), re-refino de óleo lubrificante (resolução 09/93), resíduos de serviços de saúde (resolução 283/2001) e pneumáticos (resolução 258/99). A desatualização leva o empreendedor a ficar atrás no mercado da reciclagem, e a busca pela atualização é uma necessidade para que novas e criativas soluções sejam criadas, constituindo-se num diferencial num segmento de mercado que tende a ser extremamente competitivo, e com grande espaço junto à mídia em geral.

Desse modo, antes de as pessoas se aventurarem no campo da reciclagem, é preciso que estejam devidamente instruídas sobre o que é a reciclagem e seus pré-requisitos para que a animação inicial não se transforme em pesadelo depois. Existem inúmeras oportunidades de cursos e similares, não só para os iniciantes, mas também para os que buscam novas informações. Contudo, as pessoas devem escolher apenas aqueles cursos cujos ministrantes tenham uma real experiência no segmento, sendo capazes de dar uma luz às pessoas sobre os prós e contras, as dificuldades que as esperam, o investimento inicial a ser feito, as licenças de funcionamento, etc... As experiências que eu tive com diversas turmas mostram as mais variadas reações após terem uma visão geral dos vários aspectos da reciclagem: frustração, decepção, cautela, convicção, surpresa... A maioria das pessoas não tinha idéia da complexidade do mundo da reciclagem, de suas armadilhas e da luta que se trava para obter um resultado financeiro compensador.

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, existe um curso denominado “Coleta Seletiva e Beneficiamento de Lixo – Como Fazer Disto um Negócio”, oferecido pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Ambientais e Desenvolvimento (NIEAD) do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN). Dentre seus objetivos destacam-se: discutir a importância da coleta seletiva de materiais recicláveis proveniente do lixo urbano e dos grandes geradores;• o modus operandi da coleta seletiva, discutindo-se o que é gerado, como armazenar, como destinar e comercializar os diferentes produtos; os aspectos econômico-sociais relacionados ao mercado de reciclagem; formação de cooperativa e programa de apoio. Pessoas interessadas em implantar programas de coleta seletiva de lixo em comunidades, escolas, empresas, condomínios, clubes e restaurantes, empreendedores desejosos de comercializar resíduos para reutilização ou reciclagem, profissionais do setor de resíduos sólidos e limpeza urbana, cooperativados de coleta de lixo, formadores de opinião e membros de ONGs são os principais usuários deste curso. O Núcleo dispõe também do Curso de Reciclagem de Plásticos e Educação Ambiental para Gestores do Meio Ambiente.

*Júlio Carlos Afonso pertence ao Depto. de Química Analítica do Instituto de Química da UFRJ e é um dos professores que ministra o Curso de Coleta Seletiva e Beneficiamento de Lixo Urbano no NIEAD/CCMN/UFRJ.(Eco Agência, 06/05)

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