A Terra está se tornando mais brilhante, mas não se sabe por quê
2005-05-09
Revertendo uma tendência de algumas décadas atrás no sentido de uma escuridão global, a superfície da Terra está se tornando mais brilhante desde 1990, conforme relatório de cientistas liberado na última sexta-feira (6/5).
O brilho significa que mais luz do sol e, portanto, mais calor, está atingindo a superfície terrestre. Isto poderia explicar parcialmente as temperaturas recorde registradas no final dos anos 90, e poderia acelerar a tendência de aquecimento do planeta.
– Nós vemos que a escuridão não está mais aqui, disse o Dr. Martin Wild, climatologista da Instituição Federal Suíça de Tecnologia em Zurique, autor líder de um dos três artigos que analisa a questão da luz do sol publicado na edição de sexta (6/5) da revista Science.
Alguns cientistas relataram que, entre 1960 e 1990, a quantidade de sol que chegou à Terra decaiu a uma taxa de 2% a 3% a cada década. Porém, em alguns lugares, o brilho verificado na década de 90 mais do que ofuscou a escuridão, disse o Dr. Wild. Em outros locais, como Hong Kong, que perdeu mais de um terço da luz do sol, a escuridão teve seu nível reduzido, mas o céu permanece escuro, mais ainda do que no passado. Em poucos lugares, como na Índia, a tendência de escuridão prossegue, disse.
O novo artigo também chama a atenção para uma grande falha no entendimento do clima. Os cientistas não sabem exatamente o que causou a escuridão e o brilho, ou como estas afetaram o resto do sistema climático.
A Terra reflete cerca de 30% da luz do sol que entra a partir do espaço. Leves alterações na reflexão, possivelmente causadas por mudanças na cobertura de nuvens e pela poluição do ar, podem ter tanto impacto no clima quanto os gases de efeito estufa como o dióxido de carbono. Alguns cientistas dizem que a escuridão e o brilho podem explicar por que muitas temperaturas da terra reduziram-se quando foi previsto por muitos modelos climáticos e então subiram, mais recentemente.
– Acho que pode ter acontecido uma redução da luminosidade entre 1960 e 80 e o efeito estufa, disse o Dr. Wild. – Quando a escuridão diminuiu, os efeitos dos gases estufa começaram a se tornar mais evidentes. Não há mais o mascaramento pela escuridão, acrescentou.
Contudo, a Dra. Rachel T. Pinker, professora de meteorologia da Universidade de Maryland que lidera um grupo que escreveu um dos artigos, disse que o cenário não é assim tão simples. Mais luz do sol poderia aumentar as taxas de evaporação, levando a mais nuvens, e nuvens adicionais poderiam aumentar a refletividade da Terra, limitando o efeito do aquecimento. – Penso que é uma questão complexa, assinalou a Dra. Pinker. – Há muitos mecanismos de alimentação e retroalimentação envolvidos, acrescentou.
As descobertas do Dr. Wild e seus colegas estão baseadas em dados de 2001 a partir de uma rede de sensores que fizeram as medidas da luz solar diretamente do solo. Mas os sensores não estão uniformemente distribuídos, com o maior número deles localizado na Europa, poucos na África e na América do Sul e nenhum deles cobrindo 70% da superfície de água na Terra.
O grupo do Dr. Pinker analisou dados de satélites de 1983 a 2001 que cobriram o globo. Suas descobertas sobre o brilho, que basicamente concordam com as do Dr. Wild, repousam em modelos de computadores para estimar quanto de luz solar chega à superfície.
Finalmente, um grupo liderado pelo Dr. Bruce A. Wielicki, do Centro Langley de Pesquisa da NASA (Agência Norte-americana Espacial), na Virgínia, relata que as medidas feitas pelo satélite Acqua, da NASA, mostram um leve decréscimo de luz solar refletida para fora da Terra desde 2000, a partir da luz correspondente na superfície. As descobertas da NASA entram em conflito com medidas, reportadas no ano passado, que sugerem que a Terra teve a escuridão reduzida desde 2000. Essas medidas têm em observação a iluminação do lado escuro da Lua pela reflexão na Terra. (Com informações do New York Times e da Revista Science/News, 7/5)