Namoro para criar uma gigante do petróleo na América do Sul
2005-05-05
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deverá aproveitar a presença do presidente Hugo Chávez no Brasil na próxima semana para avançar em um dos temas que pautaram sua viagem a Caracas, entre os dias 25 e 26 de abril.
Está em jogo a possibilidade de a Petrobras e a estatal de petróleo venezuelana, a PDVSA, concentrarem esforços na criação de uma terceira empresa, que funcionaria como uma espécie de multinacional latino-americana de petróleo.
Chávez, que deve vir ao Brasil para participar da Cúpula de Países Sul-americanos e Árabes, ensaia o namoro da PDVSA com a Petrobras há mais de um ano, quando sugeriu a criação da Petrosul.
O assunto foi retomado quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou à Venezuela pela última vez, em fevereiro. Na ocasião, Chávez e Lula assinaram 11 memorandos relacionados a projetos de cooperação entre as duas gigantes do setor de energia da região. Um deles, inclusive, previa a construção de uma refinaria conjunta, que teria sede no Brasil. O projeto, entretanto, até agora não saiu do papel.
Dirceu, que embarcou rumo a Caracas pautado para discutir a integração sul-americana, retomou a idéia da cooperação na área do petróleo. O ministro e Chávez concordaram que a única maneira de a América Latina superar suas dificuldades é atuar em conjunto - daí a idéia de não desperdiçar justamente um dos recursos naturais que a região tem em abundância. Dados do Ministério das Minas e Energia revelam que, em 2003, a América Latina produziu 10,5 milhões de barris de petróleo por dia e consumiu 6,5 milhões.
Empresa seria a quinta no ranking mundial
A multinacional reuniria, além de Petrobras e PDVSA, todos os países que fazem prospecção de petróleo na América do Sul. Os avanços ainda esbarram na burocracia. As duas empresas que liderariam a estratégia são gigantes, o que por si só demanda uma série de discussões e avaliações técnicas.
Os dois países, entretanto, já fazem projeções - por exemplo, a de que a nova empresa já nasceria ocupando o quinto lugar no ranking mundial das maiores companhias petrolíferas.
A consolidação da multinacional de petróleo atenderia, na prática, a um dos principais focos das políticas externas brasileira e venezuelana, que pregam a integração política, econômica e de infra-estrutura na América do Sul.
Além de projetos no setor petrolífero, Dirceu e Chávez também discutiram a possibilidade de viabilizar um sistema integrado de geração de energia para o continente. A idéia seria globalizar, no âmbito da América do Sul, iniciativas bilaterais que já existem, como o gasoduto que liga a Bolívia ao Brasil.
A retomada da discussão sobre integração foi uma saída sutil encontrada pelo governo Lula para reforçar a proximidade com Chávez, justamente quando a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, visitava o Brasil e tecia críticas ao regime venezuelano. Embora Dirceu não tenha dito a Chávez diretamente para baixar o tom das críticas em relação aos EUA, o recado foi passado de maneira velada. (ZH 05/05)