História de Chernobil inspira cuidados com usinas brasileiras
2005-04-29
No dia 26 de abril de 1986, Chernobil, na então Ucrânia soviética, foi palco de uma das maiores catástrofes da história. O quarto reator da usina explodiu gerando um vazamento de mais de 200 toneladas de material nuclear, equivalente a 500 bombas de Hiroxima. As conseqüências do acidente infelizmente ainda não chegaram ao fim: hoje cerca de sete milhões de pessoas sofrem os efeitos da radiação. Na época, mais de 4.000 pessoas que trabalharam na limpeza morreram e mais de 70.000 ucranianos ficaram doentes.
Números como esses são apenas um dos motivos que devem ser avaliados antes de ser aprovada a retomada da construção da usina Angra III. Essa é a opinião do deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB/SP), um dos políticos atuantes da área ambiental. O deputado é autor do Projeto de Lei 4.709/2004, em tramitação no Congresso Nacional, que dispõe sobre a proibição da construção de novas usinas nucleares antes do término da construção do depósito definitivo de rejeitos radioativos.
Para o deputado, entre os vários inconvenientes da construção da usina nuclear de Angra III, está o destino dos rejeitos radioativos. — A grande preocupação dos pesquisadores, dos ambientalistas e da sociedade em relação aos rejeitos radioativos é justificável, visto que as duas usinas nucleoelétricas em operação, Angra I e Angra II, geram, a partir de fissões nucleares, diversos subprodutos radiativos denominados rejeitos radioativos, que apresentam radionuclídeos em quantidade superior aos limites de isenção especificados em norma da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e pela Agência Internacional de Energia Atômica, alerta.
Mendes Thame destaca que foi correta a posição da ministra Dilma Roussef, que recentemente descartou o término da construção da usina nuclear de Angra III pelo menos até 2010. Nos últimos dias, no entanto, a obra ganhou apoios fervorosos do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu e do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Se for retomada, a construção da usina demandará investimentos de US$ 1,8 bilhão.
O deputado aponta que, na ausência do depósito definitivo, os rejeitos radioativos produzidos pelas usinas de Angra encontram-se estocados provisoriamente no sitio da Central Nuclear e serão acrescidos dos rejeitos de Angra III, quando esta entrar em operação. A produção anual média de rejeitos é de cerca de 390 tambores de 200 litros para Angra I e de aproximadamente 1000 tambores de 200 litros para Angra II.
Para o deputado Mendes Thame, a não construção de usinas nucleares até 2010 é a medida mais acertada. O bom senso recomenda a imediata interrupção de novos projetos de usinas núcleoeletricas até a solução definitiva do depósito de rejeitos radioativos, normatizados pela CNEM, desde 1985, pela resolução CNEM 19/85, publicada em 17/12/1985 no DOU. A resolução infelizmente não prosperou em termos práticos para a solução definitiva da estocagem dos rejeitos de baixo e médio nível de radiação, cujo tempo de estocagem, até o decaimento tolerável de radiação, é de 300 anos.