Agrotóxico ilegal causa prejuízo de R$ 260 milhões ao Brasil
2005-04-27
Uma nova modalidade de crime tem mobilizado as autoridades aduaneiras no Brasil. O tráfico de agrotóxicos ilegais, produzidos na China, Chile e Paraguai, tem se mostrado lucrativo para quem o pratica, mas é desastroso para a agricultura, a saúde, o meio ambiente e a economia nacional. A indústria dos defensivos agrícolas no Brasil calcula um prejuízo de R$ 260 milhões, todos os anos, com o contrabando. Anualmente, o setor movimenta R$ 4 bilhões, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), com sede em São Paulo (SP).
Assim como ocorre com o contrabando de mercadorias, armas e drogas, o Paraná é a principal porta de entrada do agrotóxico ilegal no país, por conta da fronteira com o Paraguai. Só nos últimos três anos, foram apreendidas no estado cerca de 12 toneladas deste tipo de produto. Segundo o Sindag, quase 100 toneladas de agrotóxicos piratas foram descobertos nos últimos quatro anos no Brasil. A quantidade que não é apreendida, no entanto, pode ser maior. - Pode ser que o contrabandeado seja dez vezes isso. A gente não tem como saber - afirma o secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida. Quando conseguem passar pela aduana, os agrotóxicos são então reunidos em grandes quantidades para serem vendidos no Brasil. As culturas de soja do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul são os principais destinos.
Para ser registrado no Brasil, um agrotóxico precisa atender às especificações de três ministérios: Agricultura, Saúde e Meio Ambiente. São realizados testes de eficiência agronômica, exames toxicológicos e é definido um limite máximo de resíduos nas condições brasileiras, um processo demorado e que custa caro. Quando o defensivo agrícola não é certificado, seguramente ele não preencheu algum requisito. A grande preocupação das autoridades é justamente com a dosagem utilizada pelos agricultores. Como o rótulo e a receita agronômica dos produtos estão em língua estrangeira, a pessoa que vai aplicar o agrotóxico não lê as especificações. De acordo com o setor de epidemiologia da Secretaria de Estado da Saúde, os defensivos agrícolas são a segunda principal causa de intoxicação no Paraná, com 19% dos casos.
Os outros prejudicados são os próprios agricultores que utilizam o agrotóxico pirata. A Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) tem registros de 100 mil hectares de plantações que foram queimadas pelo uso do veneno contrabandeado. O prejuízo se multiplica. Para o agricultor aplicar o produto, ele já gastou com semente, fertilizante, óleo diesel, teve que preparar todo o solo para fazer o plantio. Mas a colheita foi queimada, analisa o presidente executivo da Andav, Henrique Mazotini.
Quando a produção não é danificada, ela pode ser destruída se for descoberto o uso do defensivo pirata. No ano passado, após uma denúncia anônima, a Seab chegou a uma plantação de soja no Sudoeste do estado e descobriu que o herbicida utilizado continha ingredientes com concentração acima da permitida pela norma brasileira. A lavoura foi interditada e as 800 sacas de soja colhidas foram apreendidas para destruição.(Página Rural, 26/04)