Risco de tragédia nuclear é máximo, diz Greenpeace
2005-04-27
A organização ecologista Greenpeace alertou nesta segunda-feira (25/4), em
Viena (Áustria), na véspera do 19.º aniversário do acidente nuclear de
Chernobyl, que a possibilidade de acontecer um grave acidente nuclear de
conseqüências ainda piores nunca foi tão alta como agora.
–O envelhecimento dos reatores, os erros inerentes à tecnologia nuclear e a
perda da cultura de segurança elevaram a probabilidade de ocorrer um
acidente a níveis nunca antes conhecidos, afirma um documento, redigido por
especialistas em segurança nuclear e apresentado na sede da AIEA - Agência
Internacional de Energia Atômica.
O relatório também não descarta que estas instalações se transformem em
alvos terroristas, já que as centrais nucleares não estão suficientemente
protegidas contra eventuais ataques, conforme os especialistas.
–Há diversos cenários - além do possível choque de um avião comercial de uma companhia aérea contra o edifício do reator de uma central nuclear - que
poderiam ocasionar um acidente nuclear de nível máximo, afirma a
Greenpeace.
A explosão, em abril de 1986, no quarto reator de Chernobyl, espalhou no meio ambiente pelo menos 200 toneladas de material nuclear com uma radioatividade de 50 milhões de curies, o equivalente a 500 bombas atômicas como a que explodiu sobre Hiroshima. Segundo a Cruz Vermelha, a tragédia de Chernobyl afetou 7 milhões de pessoas na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia.
O documento cita os perigos da liberalização do sistema elétrico, o que
levou as companhias elétricas proprietárias de centrais nucleares a tentar
minimizar custos e, por isso, reduzem os investimentos em segurança
nuclear.
Ao mesmo tempo as companhias proprietárias pretendem em muitos casos
aumentar a potência de seus reatores nucleares, por exemplo, aumentando a
pressão e a temperatura de funcionamento do reator. Isto causa uma
aceleração do envelhecimento e uma redução das margens de segurança, dizem os especialistas. A Greenpeace afirma que um acidente num reator de água leve poderia liberar no ambiente radioatividade em um nível várias vezes superior ao da liberada no acidente de Chernobyl, e cerca de mil vezes maior que a de uma bomba atômica de fissão nuclear. Neste cenário, seria preciso retirar a população de áreas de mais cem mil quilômetros quadrados. O número de casos de mortes por câncer poderia exceder um milhão, acrescentam.
A Greenpeace acusa a AIEA de estar atuando irresponsavelmente, tentando
esconder a crítica condição das centrais nucleares e o declive global da
segurança. Os ecologistas exigem o abandono da energia nuclear como a
única medida efetiva para acabar com a ameaça nuclear. Os especialistas que assinam o documento são os alemães Helmut Hirsch, Oda Becker e Mycle Scheneider, consultores especializados em energia nuclear que
colaboraram, entre outras instituições, com a Agência Internacional de
Energia e com o governo federal austríaco. (Agência Efe/ Estadão Online, 25/4)