ABREA promove Tribunal do Amianto em São Paulo
2005-04-26
A Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) está promovendo o Tribunal do Amianto, no dia 28 de abril, a partir das 18 horas, na Faculdade de
Direito/USP do Largo de São Francisco. A entidade pretende motivar a construção de um olhar público
consciente e participante sobre este problema, tendo em vista o
princípio da dignidade da pessoa humana previsto no artigo 1º. da
Constituição como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
O dia 28 de
Abril é o Dia Internacional em Memória dos Trabalhadores vitimados por
acidentes e doenças provocadas pelo trabalho, desde 1969, em decorrência da
explosão da mina de Farmington, West Virginia, nos Estados Unidos, onde
morreram 78 mineiros. Desde o ano de 2000, a OIT-Organização Internacional
do Trabalho incluiu em seu calendário oficial esta data para denunciar a
morte anual de 2 milhões de trabalhadores em todo o mundo, vítimas da
omissão, das escolhas tecnológicas inadequadas, da precarização, da perversa
organização e brutalização do mundo do trabalho e de ações que
deliberadamente excluem o ser humano da centralidade do mundo do trabalho.
Amianto ou asbesto é um mineral fibroso usado como matéria-prima na maioria
das indústrias e em mais de 70% das residências brasileiras. O amianto é um
material incombustível, muito resistente e suas fibras podem ser fiadas em
tecidos que suportam altas temperaturas. Porém, é cancerígeno e provoca
várias doenças graves nos seres humanos. A contaminação se dá pelo ar que se
respira ou pela ingestão de água ou alimentos que contenham essas fibras. Os
nossos mecanismos naturais de defesa e tratamentos médicos não conseguem
eliminá-lo e o mineral fica para sempre em nosso organismo. Ao se instalar
na pleura, membrana que reveste o pulmão, ou no peritônio, membrana que
reveste a cavidade abdominal, causa doenças incuráveis, que matam lentamente
ou por asfixia ou por tumores malignos muito agressivos e de difícil
tratamento.
Aproximadamente 3.000 produtos contêm amianto. Entre eles estão as caixas
dágua e telhas de cimento-amianto (conhecidas popularmente por Brasilit,
Eternit), lonas e pastilhas de freios para carros, ônibus, caminhões,
tecidos e mantas antichamas, tecidos para isolamento térmico, pisos
vinílicos (tipo Paviflex), papelões hidráulicos, juntas automotivas, tintas
e massas retardadoras de fogo e plásticos reforçados. O poder do assassino
silencioso atinge quem passa por perto: os trabalhadores que têm contato
direto, seus familiares, como as esposas que lavam as roupas dos
trabalhadores, filhos que são abraçados pelos pais com as roupas de trabalho
contaminadas, os que moram vizinhos a estas fábricas e o consumidor que
adquire produtos à base deste material ou que se expõe à poeira liberada por
este mineral.
Após milhares de anos usando o amianto, a Humanidade toma consciência de que
lida com um silencioso assassino. Países desenvolvidos como
Itália, França, Suíça, Alemanha, Inglaterra, Áustria, Holanda, Suécia,
Austrália, Japão decidiram há 20 anos que não há forma segura de controlar
os seus riscos e de se evitar a contaminação humana e ambiental. E,
definitivamente, proibiram o uso do amianto em qualquer de seus tipos e
formas. No Brasil, dez anos depois de sancionada a Lei 9.055/95 do uso
controlado ou seguro do amianto, sua utilização continua a colocar
desafios e algumas interrogações cruciais, embora se intensifiquem ações
para sua proibição puxadas pelos movimentos sociais e, principalmente,
pelas vítimas. (Com informações da ABREA)