Herbicida em cultivos ilegais não apresenta risco significativo
2005-04-26
Um grupo científico internacional, formado pela comissão antidrogas da Organização dos Estados Americanos (OEA), concluiu que o risco para a saúde humana representado pelo uso do glifosato na pulverização dos cultivos ilegais da Colômbia não é significativo.
Os riscos para o meio ambiente e animais terrestres são poucos ou nulos, e podem ser moderados para os organismos aquáticos, segundo os pesquisadores, que apresentaram em Bogotá nesta sexta-feira um estudo sobre os efeitos da aspersão aérea desse herbicida.
–A pulverização cuidadosa não é um risco maior, disse o especialista canadense Keith Solomon, que liderou a Equipe Científica de Avaliação.
Esta equipe fez o estudo por causa de uma solicitação da Colômbia à Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (CICAD), e em virtude de um convênio do governo com a OEA.
Além de Solomon, estavam na equipe o brasileiro Antônio Luiz Cerdeira, o espanhol Arturo Anadón, a mexicana Luz Helena Sanín e o britânico E.J.P. Marshall.
O estudo teve como referência o departamento de Boyacá, no nordeste do país, e também abrangeu a Sierra Nevada de Santa Marta, no norte colombiano, e as regiões sul-ocidentais do Vale do Cauca, sudoeste do país, Putumayo e Nariño.
O trabalho de campo durou de setembro de 2004 a março deste ano, com presença direta dos especialistas, apoiados pelo Grupo Técnico Permanente de Monitoração Móvel, que assumiu a coleta de amostras, enviadas para um laboratório no Canadá.
O glifosato e a substância conhecida como cosmo-flux, usada junto com o herbicida, não apresentam um risco significativo para a saúde humana, afirmaram os cientistas.
O contato causa irritação temporária na pele e nos olhos, acrescentaram os membros da equipe, que, no entanto, admitiram que não mediram de forma direta a exposição em cultivadores de coca e papoula.
Além disso, consideraram ser conveniente um estudo profundo sobre a associação entre a exposição ao herbicida e a reprodução em humanos.
–Em todo o ciclo de produção e erradicação dos cultivos de coca e papoula, os riscos para a saúde humana associados a lesões físicas durante o desmatamento, queima e uso de pesticidas para a proteção dos cultivos ilegais são considerados mais importantes que os provenientes da exposição ao glifosato, acrescenta o estudo.
Os cientistas destacaram que é importante reconhecer que o impacto aqui (na Colômbia) não é pelo uso do glifosato, mas a ação inicial de desmatar e queimar é a causa primária dos efeitos no ambiente.
Mais de um milhão de hectares de floresta foi destruído no país para os cultivos ilegais, que atualmente cobrem cerca de 80.000 hectares, comparado a 165.000 em 2001.
As condições das florestas tropicais que existiam antes do desmatamento e da queima só poderão ser recuperadas em centenas de anos, alertaram.
Os especialistas documentaram efeitos indiretos sobre artrópodes terrestres (insetos) e outras formas de vida silvestre, mas atribuíram esses efeitos a alterações do habitat e das mudanças ambientais por efeito da remoção das plantas pulverizadas.
No caso do risco para os organismos aquáticos, a equipe científica explicou que as espécies de águas superficiais podem ser mais afetadas, mas de forma moderada.
Porém, os cientistas admitiram que se desconhece a freqüência e magnitude disto (da pulverização), e não existem dados disponíveis sobre a proximidade das águas superficiais aos cultivos de coca.
Os especialistas recomendaram a coleta de dados adicionais durante um período maior para obter uma melhor caracterização dos impactos da produção de coca e papoula no meio ambiente superficial e aquático. (Terra Notícias, 22/4)