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2005-04-22
No Dia do Índio, a Comissão formada pela Funai para estudar a situação das comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul revelou que não há motivos para comemorar. De acordo com especialistas que estiveram em Dourados, a desnutrição - que nos últimos dois anos já matou 30 crianças indígenas - não é o problema mais grave da região. O médico Cláudio Bernardo Pedrosa de Freitas, diretor do Hospital Universitário de Brasília - que integrou o grupo de trabalho da Funai - alertou ontem para o risco de epidemias, em função da inexistência de saneamento básico nas aldeias.

– O problema mais grave lá é de saneamento. A população está aumentando, a densidade demográfica está aumentado e as condições de água, e principalmente de esgoto, são gravíssimas e vão gerar epidemias se não for feito um saneamento rápido e em tempo mais curto do que está sendo planejado - afirma Cláudio Bernardo.

Em um relatório entregue à Funai no fim do mês passado, ele diz que a comissão alertou sobre a necessidade de uma intervenção mais rápida na área de saneamento. As doenças que podem surgir nas aldeias são inúmeras, alerta o médico. Cláudio Bernardo teme surtos de doenças como leptospirose, diarréia e contaminações intestinais. São inúmeras as fossas a céu aberto, diz o médico. Neste cenário, podem surgir inúmeros tipos de doenças somente com uma chuva.

Outra especialista que integrou o grupo de trabalho é a coordenadora de Saúde da Funai em Brasília, Ana Maria Costa. Ela acha que a desnutrição está longe de ser o problema mais grave nas aldeias indígenas. Ana Maria disse que a desnutrição é consequência de vários problemas que afligem a população indígena, que tachou de discriminada e sem acesso a empregos na cidade. Para ela, um dos graves problemas na região é o veneno que os plantadores de soja estão despejando nos mananciais utilizados pelos índios.

O médico Cláudio Bernardo afirmou que existe um preconceito coletivo racial contra os indígenas em Dourados. Ele acredita que haja uma baixa sensibilidade da sociedade brasileira em relação aos problemas vividos pelos índios. O médico denunciou ainda que o dinheiro dos programas sociais do governo federal não chegam nas populações indígenas. Segundo Cláudio Bernardo, foram encaminhados para Mato Grosso do Sul R$ 2 milhões para saneamento e R$ 7 milhões do Fome Zero. Ele foi claro ao afirmar que não viu o rastro das aplicações deste dinheiro nas aldeias. – A gente procurou e não viu. Há uma certa tolerância de ineficiência quando se está tratando de índios, disse Cláudio Bernardo.

Técnicos do governo visitarão aldeias

O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) vai formar uma comissão para visitar as aldeias indígenas em Dourados (MS). A comissão reunirárepresentantes dos ministérios da Saúde e da Justiça, da Câmara dos Deputados e do Ministério Público. O objetivo é conhecer a real situação de fome vivida pelos índios da região e pedir providências ao poder público.

Os conselheiros do CDDPH assistiram ontem a um filme da Funai sobre as aldeias indígenas. Além de uma criança que só tem pele e osso, os conselheiros viram os depoimentos dos agentes de saúde do local. Os conselheiros tomaram conhecimento ainda de problemas de alcoolismo entre os pais de família indígenas, o envenenamento dos mananciais com agrotóxicos e o arrendamento de terras dos índios para plantio de soja.

No filme feito pela Funai, uma representante do Centro de Recuperação dos Desnutridos de Dourados diz que já não distribui mais a multimistura concebida para nutrir os índios, pois a máquina que prepara o composto não está funcionando. Os agentes de saúde reclamam ainda que falta pessoal para incentivar o plantio nas aldeias. O mato, segundo os agentes denunciaram, tomou conta do terreno antes do plantio. Outra denúncia feita no filme é a falta de água nos locais onde os índios mais precisam. (JB 20/04)

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