O alerta verde: quem pode ser responsabilizado pelos incêndios florestais na Amazônia ?
2005-04-22
Em 1998, sob os olhares da mídia internacional, potencializados pelas lentes dos satélites, Roraima ardia em chamas. A resposta governamental, com o apoio financeiro de instituições e governos de outros países, foi rápida. Nos dois anos seguintes surgiram ou se intensificaram várias campanhas de comunicação voltadas para prevenção a incêndios florestais.
Embora se destinem a um público variado, que envolve diferentes categorias de agentes sociais, como agricultores familiares, fazendeiros, políticos, professores, agentes de saúde, jovens, jornalistas e empresários, os receptores preferenciais das campanhas são os agricultores familiares. A eles é destinada a maior parte das informações, do tempo das atividades e do material produzido para as campanhas (como cartilhas, cartazes e peças radiofônicas). A temática, de relevante importância para as políticas públicas de caráter ambiental e social implementadas na Amazônia, foi tratada na pesquisa de doutorado da Profa Luciana Miranda Costa, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Pará. O trabalho recebeu o Prêmio NAEA de tese de doutorado no início deste mês.
Os resultados da pesquisa demonstram que é a partir da construção e reprodução de uma imagem negativa dos agricultores familiares por entidades ambientalistas governamentais e não-governamentais, que se desenvolve a estratégia de atuação institucional das campanhas. Trata-se de uma disputa de sentidos e poder que reafirma a tensão existente nas relações entre os ambientalistas (produtores da campanhas) e os agricultores familiares (receptores das informações). Isto resulta no alcance apenas parcial e temporário dos principais objetivos das campanhas, quais sejam: redução do número de ocorrências de incêndios florestais provocados por queimadas agrícolas e mudança de comportamento por parte dos agricultores familiares. Por outro lado, a tese busca também explicitar as diversas estratégias desenvolvidas pelos agricultores familiares e suas instituições de representação (como os sindicatos de trabalhadores rurais e as associações) para, do ponto de vista da recepção, reconstruir com diferentes sentidos os discursos das campanhas e marcar seu lugar na disputa simbólica.
Quatro projetos e suas respectivas campanhas foram escolhidos para compor o escopo de análise: o Proteger (concebido e coordenado pelo Grupo de Trabalho Amazônico-GTA), o PGAI Queimadas (sob coordenação da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Pará), o Projeto O Bom Manejo do Fogo (idealizado e executado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM) e o projeto Fogo Emergência Crônica (implementado pela organização não-governamental Amigos da Terra). A pesquisa de campo foi realizada em sete municípios nos estados do Pará e Mato Grosso, no período 2000-2004, totalizando mais de 320 entrevistas. O referencial teórico de análise baseia-se principalmente na obra de Pierre Bourdieu.
Instituição: Universidade Federal do Pará.
Autor: Luciana Miranda Costa.
Contato: lucianac@amazon.com.br ou .(91) 9609-3144.